sábado, 1 de abril de 2017

Subjectividade

Estes dias de chuva e de bruma matinal
Estes dias incertos de maresia, que me lembram um certo espelho de água nos teus olhos.

Este discorrer sobre um livro fechado, abrindo-se pelas margens do meu corpo.
Este sossego da noite, que quase sempre me toca as partes mais íntimas,
como se fossem a tuas mãos abertas ao tudo que existe,
unicamente sensitivo
no afoguear de um leito vazio por fora e cheio de odores por dentro,
num momento ainda virgem de aromas só teu

ainda que efémero seja este prazer,
ainda que os sentidos sejam só um caminho deserto
ainda que os caminhos sejam percorridos por um sonho
ainda que não me toques com as pontas dos teus dedos, sinto-te  alma, porque assim a minha mo silencia

ainda que assim sejas um misto de subjectividade
ainda que este agora te seja ausente
eu estou presente, em todos os caminhos
e os sentidos são um único sentido, gozando da plenitude de um prazer orgástico num sonho.

E os sonhos são no espaço etéreo um sentido continuado.
Ainda que interrompido à chegada da aurora, ele continua na sua demanda dos sentidos num orgasmo perpétuo de movimentos num espaço.
Ainda que esse espaço seja ilusório, ainda que o seja, na nossa visão, é-o num plano invisível, mas é:

Uma noite ainda em verdes prados, nos jardins onde o céu é mais céu, enquanto não chegam as tulipas brancas.
Um dia desigual, na singularidade de um dia ímpar, quando se demora num fio de água cristalina, e se permite ser como um rio, quando o vejo a correr mar adentro.
do meu corpo
Em ânsias me recolho nesse rio que me toma de um jeito só seu
corrente contra a corrente
amante de um todo existente nos nossos corpos

Amor meu


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