sexta-feira, 29 de outubro de 2010

O rio que se cuide

Gastar meias solas no passadiço
desarmar todas as correntes
que aprisionam as nascentes a Norte
e condicionam as afluentes a Sul...
tenho dito...

O Rio que se cuide

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Coleiras com bico de ferro


Se justos forem os justos, então maior justiça haverá nos que reiteram a sua própria justiça. Não me incomodam os que reclamam a verdade num mundo de intrujices, mas sim os que se assumem verdades inteiras, quando de verdade só têm uma objectiva de longo alcance.

Hoje sonhei com um cão abandonado. O seu dono fez justiça com as suas próprias mãos. O cão sofria por ver que a verdade dele passou a ser parte de uma verdade do seu próprio dono. Trazia uma coleira com bicos de ferro, e uma placa gravada com o seu nome. Quando me tentei aproximar, para mais de perto poder decifrar-lhe as letras que formavam a palavra com o seu nome, abri os olhos. A verdade dele passou a ser a minha, no preciso momento em que fiquei sem palavras para poder descrever o local de abandono de todos os animais com coleiras de bicos de ferro.

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http://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=154471#ixzz12ES70YWC

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Terra prometida

(Acrílico em tela - Dolores Marques)


Os amigos recebiam-na sempre de braços abertos, mas ela como se fechava para a vida, esticava-lhes um beijo assim ao de leve, só a roçar uma pontinha de pele. Olhava em seu redor, com os olhos esbugalhados e o seu ar extasiado, como se tivesse entrado num outro mundo. Ali era o último encontro daquela raça, para que todos se olhassem bem e imprimissem as imagens que nunca mais iriam ter na frente dos seus olhos. Seria o dia da última sagração dos homens na terra, que ainda se encontrava revoltada pelos bicos de ferro e pelas foices afiadas, que cortaram a eito todas as raízes que mantinham ainda a forma erguida para a última colheita.
Tinham chegado ao ponto de encontro e todos se mantiveram de pé até chegarem os últimos pregadores da demanda que os iria levar à terra prometida. Aquela já não lhes servia para nada, depois da decadência e do desmazelo a que todos se habituaram. O sol já não lhes aparecia com as mesmas cores durante o dia, a noite era um círculo fechado aos reflexos da lua, as estrelas apagaram-se quando da sentença do ultimo comité de naves que sobrevoaram os céus. Os mares evadiram-se até à linha do horizonte, tinham já naufragado todas as embarcações que transportavam novas espécies para a sua colonização e o azul do céu, diluiu-se perante as cores do novo arco íris.
Ali se sentaram de pernas cruzadas e de mãos dadas em jeito de ritual, unindo esforços para que todos fossem uma única força que os levasse ao destino que estava prestes a deixar-se seduzir pelas novas agitações da nova era.
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