sexta-feira, 31 de maio de 2013

Quando foi...

Sabem quando foi que me esqueci de mim?
Foi quando todos fecharam os olhos e me abandonaram, como se eu fosse o céu

Sabem quando foi que os voltei a ver de novo?
Foi quando todos abriram as suas portas como se eu fosse a lua

Sabem quando foi que a noite se abriu?
Foi quando do céu , chegaram novos sorrisos  e voltei a ter quem me abandonou por perto

Sabem porque existem muitos olhos na noite?
É porque todos os olhares se cruzam enquanto dormem

Sabem quando foi que desisti de mim, e de todos os olhares que se fecharam no meu céu
NUNCA!


Dolores Marques ÔNIX
– Eventos/13


quinta-feira, 30 de maio de 2013

Só alma

Não me interessa se estás sentado, de pé, ou se o sol te beija, ou se lua agora te abraça, e se o silêncio é a tua companhia, se na meditação encontras alguma harmonia.

Não me interessa se o mar é perto, ou longe, ou se o horizonte te chama para ires em busca de tesouros escondidos.

Não me interessa nada disso, porque tudo isso são cenários onde ensaias os teus desejos mais profundos - os de não saberes onde te esconder da miséria que te abraça por todos os cantos escuros, onde teus olhos descansam.

Para que eu saiba, que esses são os lugares que teu corpo reclama, mas que tua alma solicita, diz-me só de um lugar, um só que saibas descrever como se fosses só alma e mais nada.

Diz-me então o que sentes e como te sentes, para que, fechando os olhos, te veja e te sinta também eu, na tua alma.

Dolores Marques – ônix – Eventos/13

quarta-feira, 22 de maio de 2013

O amor em pessoas



Este hábito diário de sairmos para a rua e perguntarmos, “tudo bem?”, por não sabermos como nos dirigir a quem anda de cabeça perdida sem saber onde encostar o corpo. Depois vêm os cumprimentos, responde-se, que sim, tudo bem, dão-se as mãos, beijam-se os rostos, entorna-se um pingo de café na roupa e segue-se rumo ao mais que conhecido mundo onde nos lamentamos, sempre que nos cruzamos com uma chuva a mais ou um sol a menos. 

“Hoje o dia está lindo, apetece sair por aí e colher sal das ondas do mar. Iodo e sol nas pernas fazem bem às varizes” dizem umas. 

“Pois mas nem sempre se pode fazer o que se tem vontade. É preciso trabalhar, é preciso”, dizem umas e uns.

Depois vêm os pombos esganados de fome a picar alguma migalha esquecida por entre as pedras da calçada, enquanto outros sobrevoam os barcos atracados no cais. Ali há fartura de tudo até que chegue a hora da partida. Enquanto isso, alguém esquecido de que, há vida já, a andar num rebuliço, para que à noite se coloque comida na mesa, se ajuntam, corpo com corpo, boca com boca, braços com braços. Depois tudo muda e até parece que cidade se transforma toda nas bocas de quem tem a sede de amor a escorrer pelos dedos.

Não deve haver nada pior do que acordar com um vazio matutino, encontrando-se perante uma figura estranha no meio dos lençóis dobrados. Nada pior do que abrir os olhos pela manhã e ver que o amor sumiu por um pensamento qualquer, que acabou de partir os vidros das janelas. Pode até pensar-se que ainda não se acordou, e que se vive num sonho que espera o som do despertador para nos trazer de volta à nossa realidade. Um vazio desdobrado, um sonho dentro de outro sonho. Pior é também acordar com um estranho na cama e momentos depois ouvir sons estranhos vindos da cozinha. Na noite anterior devem ter-se consumido, um e outro, e falado palavras ao ouvido, daquelas que todos gostamos de ouvir, mesmo que saibamos que são palavras ao vento. Às vezes dou comigo a pensar que o amor devia ter como denunciar estas cenas, e levá-las para um palco construído no meio do mar. O sal seria o único tempero de um sentimento ainda em fase de preparação.

O amor é uma palavra, que, ao que parece, todos conhecem. Passam o tempo todo a falar no amor para aqui, amor para ali, mas sabe-lo no meio de tantos escombros onde guardam o ferro velho de uma vida, isso é que não. Entender os humanos não é fácil. Há pessoas que sabem que sim, que o amor existe, falam dele, fazem amor com ele e por ele e passam uma vida inteira a procura-lo, para o trazerem para bem perto, mas ele anda por outras avenidas tristes onde se encontram palavras de amor em cada esquina e em cada muro esbatidas com tinta-da-china. Serão estas pessoas como se costuma dizer: o amor em pessoas? Depois há aquelas, que não estão nem aí para o amor. A sua vida é focada em outros interesses, e o amor está mesmo li tão perto e não o veem. 

A vida é feita destas e de outras coisas.

DM; ÔNIX in Eventos Maio/ 2013

terça-feira, 21 de maio de 2013

E os outros?


Queremos encher os olhos com o belo, com o que desejamos que nos faça feliz, quanto mais não seja por momentos ilusórios e que quase sempre são contraditórios. 
Queremos andar por todos os lugares com uma venda nos olhos, e que nos ofereçam flores acabadas de matar nos jardins.
Queremos só coisas boas, porque nefastas são tantas coisas que nos fazem levantar pela manhã, e então caminhamos sem destino, em busca de um lugar sagrado para sarar as nossas feridas.
Queremos todos ser felizes, fechando os olhos à verdade nua e crua que vive lado-a-lado connosco.
Queremos que tudo seja cor-de-rosa, nem que para isso se coloquem uns óculos especiais.
Queremos só ouvir falar de amor, e de luz a iluminar os nossos dias.
Queremos estas e outras coisas para nós…mas, 
E OS OUTROS?


DM, in Dakini/13

Estranha forma


Que estranha
Forma, é esta
Que a poesia
Encerra em si
Como se de si
Ela dissesse
Mas não quisesse
Ser mais no lugar
Onde os poetas
Se estranham
Mas s’entranham
Nas palavras todas

Que estranha
Forma, é esta
Que a poesia
Encerra em si
Tal como
Se lavra a terra
E se semeiam dores
Como se a terra
Fosse o último lugar
Onde plantar
Vontades
E criar raízes
Fora de si
E para si

Tela de Luiza Maciel


sexta-feira, 17 de maio de 2013

Papa Hóstias


Cabia em todos os buracos do chão, até que alguma esmola se alojasse também na sua boca aberta. Imóvel, aguardava! Podia haver algo para lá daquela porta fechada.
Mas, agora nem todas as esmolas enchem os cofres fortes das igrejas, porque de quando em vez, há por lá alguns “papa hóstias” mascarados . Uns travestidos que resolveram encarnar o papel das imagens imaculadas de todos os santos. Alguns, até parece que sorriem para nós! 
Hoje, quando forçada a parar para me desviar de um desses buracos no chão, dei de caras com a fachada principal de uma igreja. Olhei para o topo e vi uma cruz negra incrustada num círculo recheado de belos rendilhados, que, quando o sol lhes toca, brilham como se fossem mantos dourados. Será que os santos se despem de noite e colocam ali os seus mantos ao sol? Contudo, ao olhar bem, reparei que não passavam de simples teias de aranha. Pensei , “porque optaram por colocar ali uma cruz negra?” Que coisa esta! Será para podermos identificar que ali mora Deus, o maior e o menor. Não! Para todos os fiéis, crentes e não crentes, só há um Deus, um Deus maior. 
Ofuscada com aquele brilho logo pela manhã, tentei seguir caminho. A porta encontra-se fechada, e ele, ainda espera por alguma migalha que tenha ficado esquecida num daqueles buracos do chão. Voltou lá, e enroscou-se todo até que a porta se abra. Procurará então alguma hóstia que tenha ficado esquecida e seguirá também ele caminho. 

Dolores Marques; Dakini
 - Fev/13

quinta-feira, 16 de maio de 2013

Imobilidade mental


Não se conseguir acompanhar a linha de qualquer raciocínio logo pela manhã, é obra-prima de um pensamento desequilibrado.
Ler e conseguir entender, é uma questão pertinente que interfere com a nossa imobilidade mental.
Pois é! O pensar demais com as partes baixas, causa uma inatividade intelectual, e fica-se de rastos para se conseguir ousar pensar que o sentir precisa chegar cedo. Que se faça do pensamento, um movimento simétrico à verticalidade, para que todos os pensamentos sejam uma linha contínua a tocar todos os pontos, onde nos encontramos, Um Só!


DM; Dakini  - Eventos 2013

quarta-feira, 8 de maio de 2013

Além de Mim e de Ti, Há um Imenso Jardim


Hoje acordei num corpo nu
Cheirava a rosas…
Jasmim, carmim ou carmesim
Mil flores em tons de céus
Afloraram pétalas
Em cima de mim

Não sei se sou um sonho
Ou se um sopro
Esmagado no teu cheiro
Os canteiros foram desflorados
Num corpo lavrado
Em mim…

Há novas cores no meu jardim
E o desejo das finas flores
Que me pintam o rosto
Bebe da cor das lágrimas
Fragmentos de orvalhos es(calados)
Mesmo em baixo de mim

Toma-me de um jeito morno
Em colo perfeito
E recolhe do mundo
Um doce pranto
Que adormece sempre
Acima de mim

Entre o real e o irreal
Há um só tempo…
Que se esbate na candeia acesa
E se resguarda
Para lá de mim…
E de ti
No mesmo jardim

Entre o ser e o não ser
Mais que um simples corpo
Dor(mente) e caído
Abaixo de mim
Sei que sou eu inteira
Que me fiz assim

Arranquei do silêncio
A única verdade
Acima de mim…
Raízes seculares
Profanaram o templo
E rasgaram o manto
Que a cobriam

Sou flor esquecida
Em outro jardim
Porque me tolhes os gestos
Se somos um só...
Na essência renascida
Em ti e em mim?

Sobrevivo no tempo
Tapo e destapo
A agonia do mundo
Que se borda
Nas bordas imaculadas
Do autêntico e verdadeiro
Colo Sagrado…

Resguardo-me…
Primeiro a mim
E o véu transparente
Tecido em pétalas roxas
Vela também por ti

E eu…

Bebo do cálice da vida
Neste imenso jardim


(2009)