quarta-feira, 29 de março de 2017

Um dia solto

Esta noite foi uma aventura a calcorrear um dia solto da semana.
Uma daquelas cenas, com uns míseros trocos nos bolsos, para a maior aventura de uma noite de insónias.
Uma noite na companhia desse pesado fardo, a cuidar de mim, mas ao mesmo tempo a sacudir-se todo por dentro da noite.

E este é só um dia solto da semana, livre de algum contratempo que possa chegar com o nevoeiro a sumir-se por mim adentro.
No final, se houver um final, serei de novo o seu fim, para a certeza de um dia a menos, e uma noite para começar.
Noite cerrada nos meus olhos.
Noite aberta no meu corpo.
Noite sentida nos aromas que chegam com um certo perfume.

E esta noite serei a loucura…
Não sei se a serei em tudo a deambular pela cozinha.
Não sei se a loucura se irá estender só pela sala.

Abrirei a janela. É isso!
A janela que fica engasgada entre os vidros foscos, deixará de ser janela.

Trancarei a porta no devido tempo da tua chegada. Fecho-a, mas contigo dentro.
A porta trancada e nós abertos à madrugada
Do lado de dentro soará a noite, porque deverá ser só mais um dia.
Um dia solto da semana....

ONIX

Cortinas

Abre-se um pouco a cortina, e, ínfimos sóis e luas a deitarem-se no meu colo, como se eu fosse um pouco da metáfora, esquecida, lá nos olhos da madrugada.

Deixa-me pensar….não…não…chego lá.
Hoje nem um sonho veste as palavras cujos códigos de barras estão encriptados, sob as cortinas de ferro.

É o momento de proceder à abertura completa. Decifrar a silhueta colada nas vidraças.
Um momento só, e sou como um vento que se esquece de soprar à tua janela.

Parece-me seres tu, manso nas horas impróprias da manhã.
Um sonho, ainda em estado de vigília.
Levas-me metade.
Sou-te à noite, um fruto nascido agora no meu corpo.
Sou-te como se toda eu fosse a loucura nos teus olhos fechados.

És ainda um sonho idílico da minha infância.
És aquela partícula de luz, que emana…simples e singela luz que Tu és.
Ainda que me não existas, sinto-te na intimidade da linguagem do tempo

Hoje não penso, sofro. Choro por detrás da cortina fechada.
Sinto-me no vazio das horas, um ponteiro quebrado.
Quase um reflexo do tempo por ali ainda parado..
Quero pensar e contar os minutos, e as horas.
Que eu saiba quanto de tempo existe ainda em mim.
Quanto de Amor resiste ainda neste pequeno instante em que te penso.

Deixem florir os lírios roxos.
No vosso banquete, a festa da vossa boca não é festa sem os lírios roxos.
Não façam chorar os lírios roxos.

Ficar a olhar para uma porta fechada é não ver e nem ouvir o canto dos pássaros na janela.
Ainda que tudo pareça às escuras, a intensidade da luz rompe os espaços....
Depois de pisares o círculo de luz, nenhum caminho ficará para trás.
Tudo será uma diversidade de pontos luminosos, a saber-te presente, sem passado nem futuro.

Agora, sou-te Alma, essa amante de todos os corpos na floresta ainda virgem.
Ainda que me não avistes do céu, sou-te Una em todos os pontos que unem as distâncias.
Tudo será... ainda que nos pareça que é findo o tempo.

(...)

ONIX

segunda-feira, 27 de março de 2017

Há sonhos

Há sonhos, cujo olhar impresso na noite, é um plágio dos sentimentos alheios. 
São passagens para a derradeira viagem que nunca termina. 
Antes, se consentem na própria linguagem arcaica, descoberta nos caminhos percorridos pelas páginas fechadas de outrem.
Há sonhos que são um atentado à forma, à subtileza, à ordem com que se desenham os vários segmentos, por eles inscritos num tempo, que nunca foi suposto ser o de alguém.
Nas passagens de nível, o comboio apita, porém, rouco, vai rasgando o tempo, em que soava e ninguém ousava copiar-lhe a loucura sobre os carris, onde ferro com ferro, tudo era fogo nas distâncias a carregar sonhos, só sonhos, de alguém.
O ar derrama sobre a terra os conselheiros do templo. E este é nosso templo. O lugar onde tudo é tudo, mas também, tudo, é num instante…nada.
A água escorre pelos dedos, em gotas lentas, porque em cada palavra, surge uma lágrima de todos os tempos.
A terra cospe todos os ventos, quando não sentidos no seu verdadeiro trajecto.
O fogo arde, sem consumir tudo, porque nem tudo arde com o fogo, e o comboio cala-se de quando em vez.
Há sonhos, cujos elementos já os sonharam, e depois os abandonaram, por não irem ao fundo de cada um, arrancar um novo e genuíno sonho. 
Há sonhos cujos passos impressos nos olhos ainda aguardam que se cumpra a profecia. 
Mas, os olhos,…os olhos fecham-se na noite, como se o dia fosse a única aberta para voarem por eles afora. 
E voam tão alto quanto a torre do maior sino onde se ajoelham para rezarem pelos voos incertos dos outros, nunca dos deles. E o sino bate, bate a reboque o ferro fundido, como se todos os corpos se tivessem afundado, para a maior libertação nos céus para as suas mágoas. 
Depois tudo conspira contra o próprio peito, por não saberem ouvir as batidas certas, para uma sinfonia em "dó" menor. E o maior dom dos sonhos ainda virgens, eleva-se digitalizando  os nomes duma certa ordem estabelecida na terra dos sonhos….dos sonhos de alguém.

ONIX





sexta-feira, 24 de março de 2017

Histórias

Fala-me do sentir, ser só um ponto onde se aloja um outro ponto, além do pensar existir.
Fala-me coisas, coisas do verdadeiro sentir nos olhos, a força do corpo, cuja energia é a dimensão do Universo.
Conta-me uma história de Amor.
Conta-me uma que me diga dos elos que unem os laços ainda a voar em céu aberto.
Conta-me uma história do tempo do nosso primeiro evento. Aquele cujo olhar se focava ao centro - ao nosso único centro.
Conta-me coisas. Rasga os verbos todos, como se a tua voz fosse um cometa na minha boca.
Fala-me da razão que existe, num sentir nada, além deste ajuizar as coisas num mimetismo ainda presente.
Falo-te do tempo, em que a simples razão sofria por se saber a pensar existir sem o propósito de amar, somente amar tudo nas dimensões todas da alma....
Conta-me de um ponto, não ser o final de um ponto existencial num livro ainda por escrever.
Conto-te da visão clara de um olhar xistoso, ainda ser um simples firmamento nas cores matizadas do deserto.
Digo-te de outras razões, onde o pensamento se agita, tal um vulcão a soprar lufadas de ar frio pelo nosso céu adentro.
Uma história simples, num só genérico, onde possa esculpir o pensamento. Este altar, onde suspenso o tempo das rezas, se deixa conduzir pelos corpos dos Santos, que nos elegeram já herdeiros dos seus mantos, bordados a ouro fino, sobre um cetim rosa e branco, das pétalas perdidas no jardim.

Caminha, lento, na suavidade de um tempo parado
Ouve os sons dispersos desse éden a florir-te por dentro
Senta-te no colo dos girassóis
Viaja nas asas das orquídeas
Imagina-me um pólen incolor numa tela ainda nua de sentimentos
Voa nas asas da libelinha, o maior voo sobre o rio

Não me esperes no teu corpo
Não me desejes na alquimia dos corpos
Não  me sintas, pele na tua pele
Não me ames como se eu fosse uma das faces da lua
Sente-te alma, como se a eternidade fosse um lugar nosso. O único onde sabemos de todas as razões que nos unem num universo ainda em construção

ONIX

https://www.youtube.com/watch?v=3f3KhR5oDC4

quinta-feira, 23 de março de 2017

À volta da Luz

Quando a porta range eu sinto frio
Frio...e medo
Medo de quem nela bate
Medo de quem ali sofre
Medo de quem dela se apega, por não saber quem mora cá dentro

Medo do próprio medo, de não saber quem bate à porta
Medo dos meus ais, estes inseguros batimentos cardíacos
Medo do sonho se perder por entre as suas frestas

Medo de me surpreender no sono, ao acordar, e ver que não havia porta alguma no meu sonho

O medo é um relâmpago nos meus olhos, agora abertos
E sinto um sol furibundo por dentro do meu medo

O sonho no meu caminho
A porta que não é porta
A loucura do sono, somente um silêncio a escrever-se no fundo dos meus olhos

Esconjuro este espaço
Renego este tempo
Grito por fim, por mim adentro, e nem um sufoco me salta fora do peito.

É o medo…
Este sentido invertido, simplesmente um caminho:
fora às portas
fora às janelas

Fora…fora tudo dos olhos

São as orações, os credos desenhados no crucifixo
o corpo de Cristo, o sangue de Cristo,
o Cálice por ora vazio.

É a sede
É a fome
É a miséria à volta da Luz

É o rio
É o mar
É o horizonte
É a cidade toda fechada no meu corpo

E a porta, que não era porta
Range de novo agora o sobrado
São uns passos
São uns prenúncios de alguma coisa suspensa no tecto
São suspiros e gritos do lado de fora
São melodias, todos os sons do lado de dentro da porta que não é porta


ÔNIX

" Amor Primeiro" - ONIX

terça-feira, 21 de março de 2017

Que tudo retorne

Que tudo retorne como se fosse um vento
na sua trajetória
sem um princípio 
sem um fim

Que nunca sejamos vencidos pelo nosso próprio tempo
que nos caminhos traçados
não há pegadas
não há destinos fechados
não há marcos a separar-nos
não há divisões


Nos confessionários
em nós e por nós todos
nos cimos e nos baixos 
 onde somos nada mais
que um sonho ainda perdido no espaço
sombrio da memória
não há confissões

Que nem na divisão dos mundos
os nossos olhos deixem de ser visionários
que nossos corpos não se submetam à humilhação
de um mundo que circunda os caminhos da ilusão

Que nossas vozes nunca se calem
face à degradação
à escoriação,
à desumanização
à desconstrução

Que tudo seja um recomeço, nunca um retrocesso
nunca uma multidão sem voz, numa gruta fechada
que nunca se nos derretam os gelos por dentro
que nunca o fogo se permita arder nos fundos 
onde se erguem as sombras

Que tudo retorne no nosso ainda tempo
nas noites, nos dias
no único grito de revolta
cá dentro 

Pode ser num tempo vazio
num espaço fechado
num lamento escondido
na força de um vento que arraste tudo
até ao ponto
de nos esquecermos 
por morte 
ou má sorte, nos caminhos

Mas que tudo retorne ainda num tempo nosso!

ÔNIX /Dolores Marques

quarta-feira, 15 de março de 2017

Apeteces-me

Apeteces-me na loucura de um abraço. 
O lugar onde as almas se fundem, ainda que manipulado o sentido, quando se lhes altera a rota dos ventos. O lugar onde se é povo porque se nasceu povo, num pedaço de chão virgem, pisado e recalcado, mas ainda assim, um lugar fértil onde criámos raízes fundas.


Apeteces-me na divindade que chega com a neblina.
O tempo dos orvalhos que descem como se fossem as lágrimas de Deus, a escorrer-nos pelos cabelos. Nem sempre as névoas trazem as dores do parto dos céus. A alma cheia, dispensa a veleidade dos déspotas, que dela se apossam como abutres a furar o nevoeiro. 
Sempre te vislumbrei nas sombras, e porque não no corpo húmido do nevoeiro? Ali somos etéreos até às pontas dos dedos. Esse manto que nos afaga a alma, quando pensamos em desistir da vida. Esse quase lamento que se afunda no rio, quase sem se dar por isso. 

Apeteces-me na dança das rajadas do vento que vêm de cima.
Há dias que são ventanias a varrerem os sonhos. Que se juntem os meus e os teus, para que possamos ser um único tema na noite: - A noite é o ventre onde nasce o Poema. 
Espero esse manto negro que chega das entranhas do corpo da noite, com a ansiedade habitual, como te anseio no meu corpo. Quando não sei como chamar pelo Amor, escrevo: - Amo-te.


Apeteces-me no meu corpo, quando me deito.
Às vezes o Amor dissipa-se por entre os espaços da palavra, e, então, soletro-te:
- A M O R ? 
Quase sempre este modo de amar, sendo um Verso que nasce do Verbo, provoca o parto de um sentimento ainda em embrião. Depois nasce um novo Amor.
Talvez me seja indiferente, por não saber onde acomodar-te no meu peito. Às vezes insisto para que me sejas, simplesmente um olhar. Um olhar demorado nos meus olhos.


Apeteces-me como se fosses sempre um aroma primaveril
Um gosto à minha medida. Visto-o como se fosse sempre Primavera, com leves e suaves texturas pelo corpo acima, até ao seu mais inquietante segredo, nos cómodos dos olhos. Vesti-o como um vestido comprido, e no seu todo, vaporoso. Porque não quero pensar nem exasperar pelos lugares ao sol, porque lá não há disso. Por lá espelha-se a vida...acho. Voltei a almoçar no jardim, uma salada de grão, com atum e tomate, azeitonas e ervas aromáticas. Havia por lá os pássaros que me pareciam ter fome. Mas não lhe dei da minha comida, para não ficar eu com a minha, e a fome deles.


 Apeteces-me no burburinho das águas
Por ali havia as sombras das palmeiras espelhadas no chão. Havia riachos que espelhavam nas suas águas um céu desconhecido na cidade. Havias Tu, desenhado pelos meus olhos num desses momentos das sombras. Caminhei ao teu lado. Tirei-te uma fotografia. Deixaste, porque enquanto sombras, eu tu, fomos tudo num jardim onde o céu nos afiançou sermos unos, perante a aliança ali desenhada, pelo suave deslizar da pequena corrente de água.
Corria agora pelo jardim afora.

ÔNIX/DM

segunda-feira, 13 de março de 2017

quinta-feira, 9 de março de 2017

Limites


Como descobrir no Portal do Tempo uma porta ainda aberta?
Como saber se o tempo ainda é um remanescente do espaço aberto, que nos une nos outros ainda fechados?
Como sentir a inconstante peregrinação do corpo, quando ele for somente alma, nesse espaço vazio do tempo?
Como não percorrer um caminho na dualidade, se te encontro até nos espaços em branco de uma vida. Aquela que só nós escrevemos nos limites dos corpos?

Só nós, conhecemos os voos livres do vento.
Só nós sabemos como ser unos, nos sons que se libertam do silêncio. 
Só nós, sabemos quanto tempo é o tempo que nos faz ainda existir um no outro, ainda que num espaço vazio desse mesmo tempo. 

Reinvento-te. 
Mato esta sede de um tempo agreste. 
Sacio esta fome de um caminho sempre em aberto. 
Não tenho limites. 
Não vislumbro um céu de cor mate. Nem ele é o meu limite.
Não me limito no espaço vazio de um só momento.



Pertenço à classe dos marginais do espaço. 
Esse longínquo círculo geométrico, onde os caminhos se abrem à aventura da nossa maior viagem.
A epígrafe do movimento circunstancial das horas, quais lamentos na noite, é nossa.
Alegoricamente, conheço-te nas metáforas ainda em construção. 
Sei-te na dualidade do corpo da lua. 
Encontro-te nos círculos de fogo que são talvez a Alma do sol. 
Conheço todos os teus segredos inscritos nas cores, que são a base de uma tela, onde o branco dos meus olhos criou raízes fundas.
Escrevo as metáforas numa só palavra, que te envio numa carta lacrada com a cor das lágrimas de cristal.
Não podes ser um perpétuo adeus.Sim, a presença. 
Pertenço-te como se fosses um caminho cruzado nas palmas das nossas mãos, por ora fechadas. Sinto-te como se não houvesse mais reincidências nos nossos corpos, na demanda última dos céus. 

Como descobrir na porta ainda fechada, a inscrição do Verbo: AMOR?

ÔNIX(Dolores Marques)


sábado, 4 de março de 2017

Viagens


Os movimentos da alma são inconstantes. São sinfonias, no corpo, são caminhantes por obras não concluídas. São disfunções continuadas, face ao caminho escolhido. 
Pretende-se que todos saibam ler, o que, escrito na origem, são mensagens para todos que as consigam assimilar, para na sua forma límpida as transmitirem na íntegra, sem disfarces, sem calúnias, sem obrigações de qualquer ordem imposta, por forças obscuras, que se movimentam em submundos. 

Há mundos internos, fechados. Há caminhos trancados. Há a humanidade inteira em sobressalto. Há medos, há ansiedades, há o ciúme camuflado até pela própria razão de se existir….sem se saber, para que fundamento na terra. 

Tem-se a terra como um lugar de nascimento, sem se conhecer como funciona o seu ventre crescente. Tem-se o céu como um lugar de conhecimento do universo, sem se saber romper fronteiras,  e conhecer o que existe para lá delas. 

Iniciam-se viagens com o pensamento. Tenta-se descortinar  o que está escrito nos muros erguidos em todas as direcções. Escrevem-se novas teorias sobre o universo de Deus, sobre o que, sendo  invisível, É acima de tudo, a sublime existência que aflora nos movimentos de todos os Mestres que nos trazem a Luz, a verdade dos novos propósitos de Deus para a cura de uma humanidade doente.

Curem-se uns aos outros em todos os espaços fechados, mas abram-se em movimentos abertos, e na vossa clara nudez, mostrem o que por dentro é um jardim. Distribuam as flores que crescem nas vossas mãos, bebam dos fios de água cristalina que jorra da fonte, e não esqueçam nunca, de saberem ler os sinais, quando na rua se encontrarem com a vossa sombra, sendo ela a duplicação do que representam nos caminhos de Deus.
Conversem com ela, porque vos dirá qual a direcção a seguir, quando se perderem por entre sombras invisíveis – as sombras de Deus.

Os teus olhos procuram a luz, tal como a luz procura abrir-se no teu caminho. Se os fechares, encontras-te nesse universo de luzes que habitam o teu corpo, desde que existes. A tua perseverança é um marco da tua existência. Não desistas de continuar a abrir caminhos. Não consintas elevar-te mais do que a linha de fogo, onde existes num ponto dessa linha.
As linhas geométricas existem. Os círculos contém mensagens, que tocarão a todos, quando souberem definir o ponto existencial desse mesmo círculo onde se encontram.


Habitas-me e eu habito-te nessa linha existencial onde se encontram outras formas ainda para nascer. Saibam que nos caminhos fechados, existem forças que nos permitirão escolher as várias direcções. Sejam um só caminho. Sejam uma só força. Sejam simplesmente a mudança, e que os caminhos se abram para um além agora cada vez mais próximo, cada vez mais em consciência e liberdade para a aceitação dos nossos propósitos de vida.


Há corpos que trazem o céu nos olhos. Aproveita essa dádiva que nem sempre as sombras habitam os corpos doentes. Sente como vibram, quando te olham, tal súplica para os seus pecados. Transmuta a tua energia, a que te foi consentida em termos de obrigação para com o outro que te chama, e não esqueças nunca de ser o Amor, em todas as partes do teu corpo, Dá-lhes isso, Amor, dádiva, perdão, união e compreensão, para com os que carregam aos ombros, Almas e delas não sabem, para o que existem e o que pretendem nessa união de Almas. 

É imensa a trajectória dos passos de quem chega. É imensa a claridade do seu rosto. É ainda uma imensidão de histórias, que interagem porque todos se precisam. Todos se procuram nas suas diferenças. Todos procuram sair dos escombros, nem que para isso, façam parte dos próprios destroços, que são o seu mundo interno conspurcado, e arredado da luz, própria do seu ser interno.  

Inspirem a inocência e tratem-na com o cuidado que toda a pureza merece. As almas que habitam um corpo de uma criança, nem sempre são almas doentes, a viverem ainda o estado de impureza, mas almas em construção para a mudança de paradigma. Daí a violência que é o seu pensamento, a desordem que é o seu mundo, o delinquente caminho, que nada mais é do que a revolta de um mundo a cair no vazio. 

Não toquem da mesma forma a alma de uma criança, porque a formação do corpo é ainda uma viagem em construção. Deixem que se revele nos seus anseios, nas suas verdades, porque a sua verdade irá transformar-se naquilo que todos conhecemos – a luta e o confronto que se encontram nas movimentações do corpo e da alma.

Não te encontras só. Não és único. Não confundas os caminhos, que por vezes os caminhos fechados abrem-se quando menos esperamos, e surgem novos movimentos a testarem os teus conhecimentos mais profundos.

Cura-te do peso que carregas. Se não o conseguires num círculo fechado, encontra-te num círculo que desenhas no meio do oceano. 

Nem sempre os olhos fechados, são a ausência da alma que habita o corpo. Encontramo-nos em estado de vigília, quando os corpos se tocam, quando a união é um facto, entre os géneros, que unidos se mantém unos na vida. 
Às escuras também nos encontramos, quando nos corpos se movimentam os sentidos mais profundos. 
Gratidão é o que nos une a todos. Aos que vêem e aos que já cá estão. 
Ser grato por virem até nós. Ser grato por permitirem que o Amor se manifeste, seja cedo ou tarde, seja noite ou dia.
Sejamos um caminho aberto para a mudança.
Sejamos uma janela aberta, quando a porta se fecha. Há moradas que todos habitam e outras onde só existe ainda um ponto de luz…..permite-te na luz fechada dos que chegam, seres um ponto de luz a crescer nos seus olhos.

Alarguem o círculo, Insistam nesse ponto de luz. Não desistam das linhas que o formam. Sejam um caminho cruzado, porém nunca descontinuado ….porque no final somos todos um caminho, no meio do deserto.

Há corpos que trazem um deserto nos olhos. Trazem a contingência das almas que por ali se afundaram e que ainda não se encontraram nos caminhos de Deus.
Há desertos frios, metálicos e os seus caminhos insondáveis.

Não ouças secretamente o que num círculo se deverá mover em todos os sentidos da alma.
As almas não sabem dos pontos secretos dos corpos onde se escondem. Sequer sabem de um movimento onde muitas outras respiram. Não haverá nunca a cura da alma, que não aflora no lago onde todos os cisnes se ajuntam para a maior ondulação já vista dos céus.

Nem todos reconhecem a energia que lhes veste o corpo. Recusam. Renegam, difundem-na pelos círculos todos que ainda não conhecem, como se fossem uma tempestade. Sejamos pacientes para com aqueles, que ainda não sabem porque procuram os círculos onde a sua alma é um inconstante movimento. 

A energia de Deus rompe os espaços, atravessa desertos insondáveis, não mede as distâncias, nem o tempo que precisa  para entrar e desbastar as sombras de um corpo.

O espírito que és, É para todos os enfermos o Espírito de Deus. E, para Deus não há fronteiras.
Toma-o no teu corpo e doa a quem suplica por ajuda e anda perdido do verdadeiro caminho.

Há olhares que se afundam nos teus. Sente-os, porque que nem todas as almas que te procuram têm os olhos de Deus.

Há pessoas que trazem um rio nos olhos. E não sabem porque são um rio, tais as correntes que as habitam, serem, umas desenfreadas no seu caminho para a foz, outras a nascerem em todas as manhãs, como clara luz em todos os desertos secos, áridos e sombrios. 

ÔNIX