Apeteces-me na loucura de um abraço.
O lugar onde as almas se fundem, ainda que manipulado o sentido, quando se lhes altera a rota dos ventos. O lugar onde se é povo porque se nasceu povo, num pedaço de chão virgem, pisado e recalcado, mas ainda assim, um lugar fértil onde criámos raízes fundas.
Apeteces-me na divindade que chega com a neblina.
O tempo dos orvalhos que descem como se fossem as lágrimas de Deus, a escorrer-nos pelos cabelos. Nem sempre as névoas trazem as dores do parto dos céus. A alma cheia, dispensa a veleidade dos déspotas, que dela se apossam como abutres a furar o nevoeiro.
Sempre te vislumbrei nas sombras, e porque não no corpo húmido do nevoeiro? Ali somos etéreos até às pontas dos dedos. Esse manto que nos afaga a alma, quando pensamos em desistir da vida. Esse quase lamento que se afunda no rio, quase sem se dar por isso.
Apeteces-me na dança das rajadas do vento que vêm de cima.
Há dias que são ventanias a varrerem os sonhos. Que se juntem os meus e os teus, para que possamos ser um único tema na noite: - A noite é o ventre onde nasce o Poema.
Espero esse manto negro que chega das entranhas do corpo da noite, com a ansiedade habitual, como te anseio no meu corpo. Quando não sei como chamar pelo Amor, escrevo: - Amo-te.
Apeteces-me no meu corpo, quando me deito.
- A M O R ?
Quase sempre este modo de amar, sendo um Verso que nasce do Verbo, provoca o parto de um sentimento ainda em embrião. Depois nasce um novo Amor.
Talvez me seja indiferente, por não saber onde acomodar-te no meu peito. Às vezes insisto para que me sejas, simplesmente um olhar. Um olhar demorado nos meus olhos.
Apeteces-me como se fosses sempre um aroma primaveril
Um gosto à minha medida. Visto-o como se fosse sempre Primavera, com leves e suaves texturas pelo corpo acima, até ao seu mais inquietante segredo, nos cómodos dos olhos. Vesti-o como um vestido comprido, e no seu todo, vaporoso. Porque não quero pensar nem exasperar pelos lugares ao sol, porque lá não há disso. Por lá espelha-se a vida...acho. Voltei a almoçar no jardim, uma salada de grão, com atum e tomate, azeitonas e ervas aromáticas. Havia por lá os pássaros que me pareciam ter fome. Mas não lhe dei da minha comida, para não ficar eu com a minha, e a fome deles.
Apeteces-me no burburinho das águas
Por ali havia as sombras das palmeiras espelhadas no chão. Havia riachos que espelhavam nas suas águas um céu desconhecido na cidade. Havias Tu, desenhado pelos meus olhos num desses momentos das sombras. Caminhei ao teu lado. Tirei-te uma fotografia. Deixaste, porque enquanto sombras, eu tu, fomos tudo num jardim onde o céu nos afiançou sermos unos, perante a aliança ali desenhada, pelo suave deslizar da pequena corrente de água.
Corria agora pelo jardim afora.
ÔNIX/DM
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