sexta-feira, 22 de maio de 2015

Julgamentos

Em resposta aos que me julgam, sem se darem ao trabalho de saberem quem sou de verdade, eu assumo-me a inaptidão em pessoa quando o jogo pressupõe saber qual o mais hábil.

Quando se sente tudo o que se diz, e se diz tudo o que se sente não há julgamento que valha. 

A condenação é um fardo de palha a arder.

Lugares

Assimilar o transcendente, por vezes, é ficar dependente de uma partícula desintegrada de um universo alquímico que já foi remanescente em qualquer lugar do nosso Universo.

quinta-feira, 21 de maio de 2015

A minha queixa de hoje

Às vezes queixo-me, às vezes falo, às vezes grito, mas nem sempre choro, (gostava de conseguir voltar a chorar), assim como nem sempre me arrependo de algumas coisas. 
Nem sempre me arrependo, quando sinto que fui tão somente ingénua e/ou "parva"....(parva", que é como muitos veem a ingenuidade), mas nem sempre me arrependo quando sinto que fui sempre sincera e não maliciosa.

Às vezes durmo, às vezes sonho, outras nem durmo nem sonho, mas tenho os olhos abertos para o tecto, a tentar imprimir nele os afectos perdidos, enquanto me queixava para alguém que não ouvia mas simplesmente comprimia tudo para depois rasurar em cruz todos os afectos partilhados à mesa do café.

Os encontros são mesmo isto...outras vezes nem chegam a ser nada, outras passam por um crivo para limpar sementes e outras coisas, mas ao mesmo tempo uma aprendizagem, com as mudanças que estão sempre a acontecer, entre deixas e o toque cada vez mais abismal das pancadas do bastão de Moliére


ÔNIX

quarta-feira, 20 de maio de 2015

O MEDO

Porque se acomoda neste rio de águas paradas, no lugar onde os aflitos se afogaram e se perde da estrela sibilina? As correntes sufocaram-no. No lodo enterrou os seus pertences, ainda que nada tivesse de seu. Sente frio naquele ermo. Já nada lhe lembra quem foi, ou quem agora é, ou ainda quem virá a ser quando pisar o pó da estrada. 

Encontra-se desajustado do lugar que devia ser o seu. Tentou entrar por um caminho fundo. Ali deixou pegadas e absorveu das paredes que o ladeavam, o perfume dos jasmins. Desencanto seu! Enquanto caminhava, sequer via a cor do pó do caminho. Começou então a andar mais devagar, mas, com os olhos postos no céu. Para espanto seu, este estava agora coberto de nuvens. Ainda assim, procurou um sítio onde pudesse demorar os olhos, descansar as pernas e descalçar os sapatos, que de tanto aperto, lhe incharam e avermelharam os pés. 

Da mochila retirou um livro, cujo encontro presente já fora marco no passado.

Nada, encontrou de novo. Estava fixado nos seus pés agora magoados, feridos. A sorte levou-o a descobrir aquele caminho novo, porém nada o demoveu de continuar a aspirar tal perfume raro. Não reparou, que os jasmins tinham dado lugar a novas flores espalhadas pelo chão. Estava ali, aquele tapete de pétalas perfumadas, cuja essência seria a cura de seus pés magoados. Confundiu-se todo com aquela mudança. Decidiu então caminhar com um passo mais ligeiro. Não viu algo que lhe indicasse um nada que fosse novo.
Para trás ficava a sua vontade de continuar a ler aquele livro antigo. Folhas amarelecidas, história repassada e mais que atabalhoada, sem incentivo que lhe vincasse um sorriso, mesmo que disfarçado por conta da dor que sentia. Deixou-o entregue à sua sorte.

Nisto, caminhava no mesmo sentido, alguém, que sem pés no caminho, avançava sem pretensões de chegar a lugar algum, se não ao fundo de um caminho, onde pudesse descansar e entrar bem fundo nas páginas daquele livro antigo. Ia ao encontro de outros mundos, mesmo que para isso, se confundisse com os vários momentos, ali inscritos. 

Foi então que perdeu o medo. Assegurou-se das várias correntes que por si deslizavam, agora mais firmes no seu propósito de o fazerem ir mais além.

ÔNIX


Não te sei

Sei-te com dor 
mas não te sei 
Perto, nem longe 
Não te sei! 

Nem me consigo lembrar 
da cor dos teus olhos 
quando choras 
e deixas cair 
uma só lágrima
nas minhas mãos vazias 

Esta lonjura imensa 
este degredo 
onde me encontro 

Não sei como subir 
ao alto da serra 
e gritar 
simplesmente gritar 
o teu nome 

Ônix

segunda-feira, 4 de maio de 2015

Rente à pele

Tirem as sedas
e as lantejoulas
e o verniz que se escorre
nos pés magoados

Tirem as gravatas
e as camisas
passadinhas pelo ferro
puxado e repuxado
por mãos cansadas
com unhas rentes à pele
dos dedos
e nas mãos um punhado
de queixumes

Tirem todas as coisas
que vos adornam
em torno dos olhos
e façam do olhar 
um movimento quebrado
mas não atiçado
contra o que não continuará 
a dar-vos o “devido valor”

Devido, ou imerecido
porque novos ventos
Já vêm a caminho
com novos adornos
para o corpo
e um leve suspiro 
a sair-vos da boca

ÔNIX, pseudónimo de Dolores Marques