quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Verdes anos



Estou aqui
Neste caminho
Construído a pulso
Pelas tuas mãos
Nesta terra
Amanhada com a força
Dos teus braços

Alisaram-na como um ancinho
Pronto para descobrir
As ramagens ainda verdes
E os teus dedos
Nada me diziam de um ponto
A apontar o futuro

Não me lembro
Quando te retoquei os lábios
Com a minha tez pálida
Nem quando me curvei
A teus pés
Para que visitàssemos
As memórias de um tempo
Em que éramos a verdade
Nas sementeiras da Primavera

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Os heterónimos de Fernando Pessoa




Alberto Caeiro - o mestre de Fernando Pessoa

Nasce em Lisboa e viveu quase toda a sua vida no campo.
Não teve profissão nem educação quase nenhuma.

Através da sua poesia, podemos caracterizá-lo como um poeta que vive o presente, o aqui e o agora. Ensina que o melhor será viver sem dor, sem angústia e combater o vício de pensar e ser um ser uno (não fragmentado). ” O que penso eu do mundo?, sei lá o que penso do mundo” Eu nunca guardei rebanhos”

É um sensacionalista. Vive de sensações e de impressões, sobretudo visuais. Identifica-se com a natureza “O meu olhar é como um girassol”. É o poeta do real e do objectivo, recusa a introspecção e a subjectividade. É um poeta lírico, espontâneo, ingénuo e inculto (S/Form Académica). Vive o presente, o aqui e o agora, não faz planos, não recorda. “sou um guardador de rebanhos” penso com os olhos e com os ouvidos”

“Nunca ouviste passar o vento, o vento só fala do vento, o que lhe ouviste foi mentira e a mentira está em ti”

O estilo poético apresenta uma linguagem simples, transforma o abstracto no concreto através da comparação e da metáfora.
Liberdade estrófica e ausência de rima.


Ricardo Reis – o discípulo de Caeiro

Nasceu no Porto
Educado num Colégio Jesuíta. Formou-se em Medicina
Por ser monárquico, partiu para o Brasil


Os temas da poesia de Ricardo Reis, são ligados ao epicurismo. Esta filosofia (modelo do gregos) defende a fruição do momento presente, a aceitação calma da ordem das coisas que pode ser possível através da disciplina para alcançar a felicidade. “logo que a vida não me canse, deixo que a vida por mim passe”
Os gregos são o modelo da sua sabedoria – aceita o destino de uma forma digna e altiva


É um discípulo de Caeiro e como tal elogia a simplicidade da vida campestre, é indiferente ao social. Embora se note algum medo da morte, é importante ter consciência de que vida é passageira, e pensar que o amanhã não existe “vem sentar-te comigo Lídia à beira do rio, que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.”

Em suma este heterónimo é um clássico, Inteligente, Culto, Austero, Disciplinado. É o poeta da razão. Aceita a vida tal como ela é, saber viver o presente “Carpe Diem”

O estilo poético apresenta estruturas estróficas mais clássicas e um vocabulário pensado com muito rigor. Frequente utilização de latinismos.


ALVARO DE CAMPOS

Álvaro de Campos é o heterónimo que percorre uma curva evolutiva que assenta em 3 fases:

A 1ª fase é reconhecida por ele próprio como uma fase decadente, que deixa de o ser quando o mestre Caeiro o acorda para a sensação e uma nova alma.

Desponta para a 2ª fase (a futurista) com vitalidade, amor ao ar livre e ao belo feroz, condena a literatura decadente e usa a inteligência e a força através da emotividade individual. O seu estilo é agora esfuziante, torrencial, espraiado, anafórico, exclamativo, interjectivo.

A 3ª fase mostra bem a curva evolutiva de Campos ao transpor para a poesia os seus pensamentos, imagens que lhe ocorrem num estado de semi inconsciência, à deriva. É a fase pessoal intimista, onde reina a sinceridade e o seu lado humano.

É o heterónimo que mais se assemelha a F. Pessoa ortónimo no cepticismo, na dor de pensar no tédio, náusea, desencontro com os outros, nostalgia da infância e sobretudo na dispersão do eu.

A origem dos Heterónimos - Fernando Pessoa




Quem melhor do que Fernando Pessoa para falar sobre ele? Num excerto de uma carta a Adolfo Casais Monteiro, ele explica o modo de falar de si tomando-se sempre por outro.

- Desde que se lembra de si próprio, teve tendência para criar um mundo fictício e se cercar de personagens, que transforma em amigos, e conhecidos que nunca existiram. Ocorria-lhe uma ideia, dizia-a espontaneamente como sendo de certo amigo seu ao qual acrescentava uma história, e traçava o perfil humano; cara, estatura, traje e gesto trazendo-o para a vida real. Teve várias fases, mas esta sucedeu já na maioridade, a tendência para criar em torno dele, outro mundo igual, mas com outra gente que ele ao fim de perto de 30 anos vê, ouve, sente e tem saudades.

Os Poemas e o renascer dos heterónimos: Ricardo Reis, Alberto Caeiro e Álvaro de Campos

Por volta de 1912 surgiu-lhe a ideia de fazer uns poemas de índole pagã, esboçou umas coisas em verso irregular, abandonou o caso, esboçara-se contudo um vago retracto da pessoa que estava a fazer aquilo. Tinha nascido Ricardo Reis. Em 1914 lembrou-se de inventar um poeta bucólico de espécie complicada, escreveu trinta e tal poemas a fio numa espécie de êxtase, foi o dia triunfal da sua vida a que deu o título “O guardador de Rebanhos”. Aqui surge Alberto Caeiro, o seu mestre. Arrancou do seu falso paganismo Ricardo Reis, descobriu-lhe o nome e ajustou-o a si próprio. Impetuosamente um novo indivíduo lhe surgiu, e sem interrupção nem emenda escreveu a “Ode Triunfal” e com ela surge Álvaro de Campos.

Em síntese ele explica como escreve em nome dos três. “Caeiro por pura inspiração, Ricardo Reis, depois de uma deliberação abstracta, e Campos quando sente um forte impulso para escrever sem saber o quê”. Porém a imaginação de Pessoa vai mais longe, ele constrói-lhes as vidas atribuindo-lhes identidades com personalidades próprias. Os poemas resultado da criação do poeta, são adaptados quer a um, quer a outro, o que nos leva a pensar que os heterónimos são a sua fonte de inspiração.

A Identificação dos Heterónimos:

Ø Ricardo Reis nasce a 1887 no Porto, é médico e desde 1919 vive expatriado no Brasil é um latinista e um semi-helenista.

Ø Alberto Caeiro nasce a 1889 em Lisboa e morre a 1915, não teve profissão nem educação quase nenhuma. Morreu tuberculoso.

Ø Álvaro de Campos nasce a 1890 no dia 15 de Outubro em Tavira. Fez o liceu e foi para a Escócia estudar engenharia naval.
(Escola Sec D. Dinis, trabalho soliciatdo por Prof. Dra. Camo Miranda Machado)

Fernando pessoa - Ortónimo





Fernando Pessoa nos seus poemas utiliza várias características da sua personalidade, falando dele próprio. Domina os seus pensamentos e os seus sentimentos e sente-se obcecado pela análise que faz deles. “ A dor de pensar”

A poesia de F. Pessoa é essencialmente irónica e cheia de introspecção. Ele põe tudo em questão, “Eu simplesmente sinto com a imaginação, não uso o coração”

O poeta sente-se angustiado e melancólico e com uma resignação perante a impossibilidade de viver a vida.

Poesia cheia de egotismo exacerbado, cepticismo, sensação de tédio, encontrando-se numa solidão e desamparo – abandonado desde a infância “ A infância que não houve”

O poeta sente inquietação sobre o enigma do mundo – o querer saber onde estamos e porquê, a procura do absurdo. É um ser fragmentado perdeu a identidade “O Eu Fragmentado”

Para Fernando Pessoa, a vida é sonho, é ilusão

Arte Poética de F. Pessoa

Nos seus poemas F. Pessoa tem preferência pelos versos curtos, o uso frequente da quadra e nela o gosto pelo popular.
Existe também um lirismo lusitano (Influências por cantigas de embalar e contos de fadas)
A linguagem é simples espontânea mas sóbria
Os seus versos são leves e recorre frequentemente à interrogação e às reticências.

O Modernismo -C/ Fernando Pessoa

O modernismo assume-se e encerra o humanismo. Assiste-se a um movimento estético, com uma nova concepção na literatura em termos de linguagem e associado às artes plásticas em geral.

Em 1913 em Portugal, surge a geração modernista com Fernando Pessoa, Almada Negreiros, Mário de Sá Carneiro, Amadeu de Sousa Cardoso, entre outros. O requinte e a audácia são visíveis e influenciados pelas novas formas de pensar vindas da Europa.

Em 1915 este grupo modernista português lança a Revista Orpheu , e com ela o poema “Pauis” de Fernando Pessoa é um marco no início desta nova corrente.

Algumas Características:

A liberdade criativa
Novas formas de pensar e sentir
Cepticismo social
Sarcasmo/Ironia
Agressão
Vertigem das sensações
Grandeza da máquina (tecnologia)
Excentricidade
Mistificação

(para a disciplina de Português - Leccionada pela Prof Carmo Machado)

A Mulher vista por Cesário Verde



A DÉBIL

1. Cesário neste poema caracteriza uma mulher bela, frágil e assustada. Ela é loura e fraca mas muito natural, a sua roupa simples mas elegante e sem ostentação, realça a sua cintura terna e imaculada. Por isso ela passa indiferente aos olhares dos outros, e é vista como uma mulher recatada ténue, dócil e recolhida aos olhos do poeta. Por isso vê uma beleza calma pelo pulsar alegre e brando do seu corpo e uma timidez comparando-a com uma pomba.

2. O poeta julga-se feio, perante a beleza dela mas ao mesmo tempo sólido, e leal. Atento à passagem da mulher observando-a dado o interesse que ela lhe provocou, nota-se uma certa preocupação e vontade de a proteger da cidade corruptora. Decidido a dedicar-lhe a sua vida considerando-se um homem varonil, hábil prático e viril, prestante, bom e saudável

3. 1“Sentado à mesa de um café devasso”. Um café velho mal frequentado onde as pessoas bebem para esquecer as tristezas. “Babel tão velha e corruptora”. Muita gente com várias formas de estar na vida- as mais honestas e as menos honestas. As classes mais favorecidas e os desprotegidos “Quando socorreste um miserável” – Ser humano nas piores condições pertencendo a uma classe social desfavorecida em contraposição com: A política e a religião lado a lado fazendo este grupo, parte da classe dos favorecidos, quando ele os apelida de “Uma chusma de padres de batina e de altos funcionários da nação”, comparando-os a um “Bando ameaçador de corvos pretos”.

3.2. Na última estrofe o poeta faz a comparação entre a mulher fraca, dócil e recolhida e ele próprio homem varonil, hábil prático e viril. Desejo de protecção achando que ela e ele se complementam dedicando-se um ao outro.

3.3. O contraste com a babel tão velha e corruptora, que o poeta pinta com as palavras no seu estilo pictórico vêm as cores claras de um dia de sol, comparadas com o amor da mãe que a aguarda. Para o poeta é um dia soberbo, que ele considera um bom dia e reflecte o respeito pelo semblante da mulher que ele considera a mulher ideal para formar uma família.

3.4. Perante a fragilidade e o embaraço da mulher numa cidade grande cheia de gente que ele chama de povo turbulento, e de bando ameaçador de corvos pretos, o poeta sente receio que lhe aconteça algo desagradável. Aos olhos dele poeta, ele compara-a a um pombinha tímida que precisa de protecção.

4. Dois seres vivendo no mesmo espaço mas com características diferentes, atendendo a que existe o feminino em contraposição com o masculino que se complementam perante fragilidade e a doçura da mulher e habilidade e a virilidade do homem. A mulher desperta um interesse no poeta pelo seu semblante e a sua postura que ele aprecia, surgindo o desejo de protecção pela sua fragilidade e timidez. Este tipo de mulher desperta no poeta e no homem em geral um interesse cujas características físicas se contrapõem. O homem forte e a mulher fraca.
(Análise do poema "A Débil" solicitada por Drª Carmo Machado - professora de Português na Escola. Sec D. Dinis)

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Estado Original



Quero falar-te de um sonho que se acomodou bem no centro onde tudo acontece, enquanto me preparava para amortecer a queda, numa queda de água fresca que enche os trilhos da montanha e os transforma em correntes fortes em forma de cascata. Há nelas um caminhar descontinuado polidor dos rochedos, mas é lá nos terrenos áridos, que a minha fuga é muito mais do que uma simples desistência, se pensar nas partículas desagregadas que a água transporta, onde se encontram ainda, os nutrientes das fragas em estado original.
Sempre que me embrenho na gigantesca floresta, vislumbro um sol nascente em meus olhos e um calafrio no dorso, centralizado num espaço onde habitam figuras sem formas, andrajos do corpo a perder-se na neblina.
Se quiseres olhar para dentro de um cenário onde a luz se esconde, verás que há um miraculoso entardecer e um pôr-do-sol, onde tudo se perpetua, sempre que te mostrares livre de qualquer forma e um tudo-nada subjacente ao teu olhar para o mundo.
(Imagem google)