terça-feira, 26 de novembro de 2013

Exageradamente

Tudo cansa
O exagero chega a doer
Por tão exagerado ser, o mundo,  nas mãos fechadas ao seu próprio mundo
Até o cheiro a incenso à porta das igrejas, se esbate nas indumentárias acabadas de chegar
Até os santos se descuidam e deixam cair o rosário nas mãos dos pecadores

Tudo cansa
O exagero poderá até ser, a doença do último século que irá chegar
Até as mãos levantadas para o céu, me deixam anestesiada
Não têm dedos para apontar na direção onde os pobres deixaram de rezar

Tudo muda de cor
Já as contas do rosário se transformam em mundos obscuros
O mundo do avesso, nem sequer é avesso ao submundo - o lugar onde todos cumprem promessas falsas aos olhos de Deus

Tudo cansa
Nem se consegue imaginar, o exagero daqueles que dormem de olhos abertos
Tudo se afunda nas linhas cruzadas das suas mãos, até que cheguem os novos povos
Irão povoar a terra com novas cores
Porque tudo cansa
E o exagero chega a doer
Por tão exagerado ser
O mundo virado ao contrário
Os submundos onde ainda moram todos os exageros de não se saber ser
Porque tudo cansa
E o exagero chega até a doer

Dolores Marques – Dakini 2013

Correntes

Vou agora entrar nos ecos fundos de uma cidade às escuras, apesar das luzes dos candeeiros. Tudo se move mas nada mexe com nada, a não ser com alguns gritos mudos, calados e frios, pintados nos muros. Os grafitis invadiram todos os lugares, onde o frio é corrente morna nas mãos dos poetas.
DM

Procura

A falta de inspiração, leva-me numa procura de mim, em qualquer folha ainda em branco, de um livro que escrevi em tempos. Vou folheando as suas páginas, e aguardo que elas me digam onde me perdi. Elas caladas, nem ousam respirar, para que nada, mesmo nada me possa levar a criar algo com base na sua clara nudez. Translúcidos são os momentos, que consentem nesta vã procura. Sem ela, seria só um pequeno ponto circunscrito nas tábuas rasas de um chão sem cor. 


DM - Dakini

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

O QB dos nossos dias

O QB dos nossos dias.

É incrível a transformação que se vê em cada flor, desde a formação do botão, até ao desabrochar das pétalas, até mesmo quando se acaba nas nossas mãos, quando a cortamos pelo caule e a depositamos num belo vaso de cristal. 
Cristalizou-se tudo o que fez da flor uma flor! Até o nosso gesto se transformou, porque não sabemos, que, ao cortar uma flor pelo caule, estamos a cortar o ar que ela respira e lentamente, vamos também deixando de respirar. Incrível, a transformação que certos ”ares” provocam em muitos de nós, a cortar o ar que respiramos sem dó nem piedade. 

Estranho este sentir pela metade. Cortar flores, oferece-las os vivos e aos mortos, e não sabermos o que nos faz caminhar, ainda em prol de uma única flor - a nossa humildade baseada na capacidade de continuarmos a ser simplesmente nós e deixarmos as flores serem flores. Sim, mesmo apesar dos cristais, e das mãos abertas ao tudo que nos faz “inchar” e não saber regular o ar, que deverá entrar e sair na medida certa. O QB dos nossos dias.

Dolores Marques – Dakini 2013