quarta-feira, 19 de abril de 2017

Fragmentos

Ser irascível, diante do horizonte sem linha que defina a geometria do espaço aberto.
Ser continuamente fora do limite imposto por uma linha sem pontas, a marcar os espaços em branco do horizonte. O branco das nuvens sustentado por um olhar assimétrico, onde se guardam alguns raios de sol, cujos tons se vinculam ao passado de um corpo adormecido.

Um céu que cai sobre as águas irrequietas de um rio que se entrega à fina corrente.
Só um simples trajecto nos passos curtos de um arrepio.
A visão de um dia que grita pela divisão das águas no deserto infindável dos caminhos.

Sofre ante a visão da disfunção do corpo a cair num vazio.
Chora pela criação de um novo tempo nesse meio tempo, onde sempre faz frio.
Desespera-se por não poder amar como se fosse um céu a entrar-lhe pela boca.
Arruma o corpo tal  como outrora, quando não se sabia, dentro de um, ou de dois.
A antiga profecia ainda não se cumpriu.
É dona de um Amor incompleto.
Completa-se em vigorosos traços dentro e fora do céu.
Dissipa-se…no espaço aberto do breu.
Materializa-se quando não se sente.
Procura-se eternamente em suaves toques na pele.

E como se fosse nada mais que um caminho ainda por palmilhar, corre em debandada por um sonho fechado.
Distribui sorrisos.
Acentua-se na volumetria do espaço vazio do corpo.
Vinga-se de todos os castigos das sombras, no corpo da lua.
Activa a fluidez dos sentidos através de um choro quente.
Enamora-se de um fogo cruzado, que se parece com tinta a escorrer-se da cor do sangue vivo nas mãos.
Filtra as palavras revoltadas no folhear violento de um livro.
Tem sangue quente num dos olhos, no outro, o degelo dos glaciares.
Assume-se indefinidamente um rio sem correntes paradas.
Determina o local exacto do culminar do fogo posto ao centro do seu verdadeiro "ser Eu".

Deixa de se saber um “Eu”.
Define-se em fragmentos dispersos, um “não Eu”.
Abandona-se…ausente da forma
Divide-se em preces antagónicas a uma paixão.

Ouve agora a Alma a gritar-lhe por dentro.
Tudo deixou em si um misto de loucura, pronta para uma viagem interminável.

ÔNIX

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