sexta-feira, 14 de abril de 2017

Caminhos da luz

Não me incomodam as normas escondias pela fome dos corpos. Desassossegam-me os sentidos desorientados, por debaixo de um vestido de lentejoulas, ou quiçá por um nó de gravada mal dado, sujeito às mãos que o oprimem.
 Incomodam-me de certa maneira, os que se alimentam de uma paleta de cores fora de tom, nos painéis destruídos dos azulejos, onde se inscreveram um dia, todos os gestos. Ali, com as palavras de ordem de um certo constrangimento, articulado pelo rebentamento de um fogo posto, às mãos de Deus.
Sim, porque parece que tudo é um ajuntamento de grandiosos actos benevolentes que nos arrebatam com um céu pintado de uma cor esbatida, na proporção onde nunca se observa a tal equidade. Sequer existe entre as rimas cruzadas de um poema, cuja regra simples, nunca é um método consistente entre as duas razões, a existirem nesse universo de versos contrariados.

Sim, porque existe um conceito formulado entre as várias razões existentes, cujos símbolos matemáticos, se encontram muitas vezes encarcerados em movimentos fechados nos nós dos dedos.
Não me convencem os arremessos contra a parede, onde pintaram em tempos a cruz de Cristo.
Não me satisfazem os benzimentos pelos pecados, cujas memórias ainda se vestem de negro nos caminhos cruzados.

Não me sujeitam a ser menos, e, nem mais do que sou, porque sem sombras de dúvidas, eu Sou, e quanto a isso nada a fazer, porque não sou mais do que isto. Sou!
Sou por mim e não por quem me julga capaz de me curvar perante os mantos que carregam, como se fossem restos do manto que cobriu o corpo sem vida do Cristo, a ocupar já outro lugar, cuja dimensão é indubitavelmente, um caminho a percorrer pelos pecadores, nus, e em prantos. 
Não me seduzem as alianças nos dedos, quando por força de um erro de casting, se esqueceram delas na pia de água benta.
Não me incomodam as normas dos homens, mas as performances normativas dos poemas cruzados, sem a proporção certa nos caminhos de Deus, que se percorrem agora.
Um dia a menos na viagem do tempo das lágrimas. E à noite, o sino tocará a reboque, para todos os que ouvirem os sons que soam de dentro da tumba ainda aberta
O sino não cessará de badalar pelos que mastigam os dividendos de um cenário contraditório à luz, num caminho farsante de trocas à porta da Igreja, como se todo o Pão lhes enchesse a boca. Como se todo o corpo de Cristo fosse a única entrada para uma aberta no tempo que lhes resta. 
O sino cessará, quando se afirmar com o derradeiro sinal, capaz de orientar os passos de quem chega para o banquete. Este, será  o momento, que os fará saber a cor da fome e da sede de quem sempre comeu do mesmo prato, assim como bebeu da mesma taça de vinho.
 O sino continuará a sua saga, junto de todos os que sabem da força da terra, e do fogo que carregam nos braços para mais uma fornada de pão.
O sino será somente um aviso dos tempos, para quem, com passos largos se adianta ao banquete.
Porque todos os sons que batem no peito, nem sempre trazem a boa vontade de um pulsar sereno.
Porque nem todas as cruzes aceitam, o metal luminoso dos olhos.
Porque nem todas as cruzes aceitam as mãos abertas com sinais da cruz fora do lugar certo.
Porque nem todos os olhos se entregam à luz, cuja incandescência é um puro engano dos tempos que carregam.
Porque já nem o Poema se vislumbra com um Verbo cheio de nada.
Porque até o verso se encolhe com medo de um fogo posto na terra, onde ainda vislumbram sementes de outrora, para a última colheita.

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