Era uma manhã cinzenta. A cidade encolhida na neblina, até que o meio-dia do sol chegasse, sofria de claustrofobia. Chegada, todavia, a hora de todos os caminhantes das nuvens descansarem, sentavam-se no alpendre acabado de construir. Disparavam em uníssono olhares de fome sobre o rio.
Cá em baixo, todos ignoravam aqueles corpos disformes a traçar caminhos no alto. A neblina, cada vez mais densa, engrossava-se num depósito de pensamentos abstractos e de reincidências pecaminosas sobre as calçadas agora desertas. Enquanto os de cima alimentavam os olhos, com tamanha discorrência a socorrerem-se de um abstraccionismo arcaico, os outros cá em baixo, espalmavam-se abruptamente contra os muros.
Todos juntos faziam de conta que a neblina era simplesmente um vulto. Um vulto de passagem.
Estava agora mais próximo o meio-dia do sol. À volta deles, sentia-se cada vez mais a rotação uniforme, que os próprios não distinguiam. O sol encontrava-se já no ponto mais alto, onde os corpos se ajeitam para a iniciação de mais um culto. O caminho percorrido até aqui, tinha simplesmente ficado esquecido, tal como as sombras que se diluíam no betão cinzento. Agora no alto comando, onde o céu se propunha criar a divisória entre o bem o mal, distendia-se em abraços, o Sol, que, mergulhado no cais ordenava que todos se distribuíssem e se preparassem para o último culto ainda em vida.
Os olhos agora abandonados, por entre a neblina transparente, fecharam-se.
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