segunda-feira, 1 de junho de 2015

Café da Manhã


Gosto de ver um sorriso logo pela manhã. Para isso, alinho a cabelo em frente ao espelho e logo de seguida fixo o olhar num ponto iluminado. Posto isto, ele devolve-me em primeira mão o sorriso ali sufocado. Tinha-se tratado de ser um desejo seu, o último antes de me adentrar nos subúrbios da noite.

Mal entro na pastelaria habitual para um café, apercebo-me que ando há alguns anos a pisar o mesmo chão, como se fosse uma penitência, sei lá, ou qualquer outra obrigação, que se distingue agora nítida, enquanto com a colher dou umas voltas à chávena e tento arrefecer a bebida energética antes de a levar à boca. Dizem do café provocar uma certa euforia matinal e que se estende pelo dia fora. 

Já me dei conta de que observo todas as pessoas encostadas ao balcão, enquanto bebem sofregamente uma meia de leite, ou tal como eu, um café. Ninguém fala, ninguém sorri. Limitam-se àquele momento silencioso, como se a noite ainda estivesse presente em cada pensamento. Engolem de tal forma aquele líquido matinal, que por vezes me parece já um antídoto contra as forças do mal, que poderão estar por detrás de um dia só. 

Forçada a seguir caminho, vou ao encontro de alguma força que me seja doada por mais um sorriso, porque alguns ficaram afogados em meia dúzia de chávenas, agora vazias e amontoadas na minúscula máquina de lavar louça da pastelaria habitual para um café.

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