sexta-feira, 4 de junho de 2010

Os Imortais




Se as nuvens por onde navegam estes seres altruístas, fossem feitas de partículas cristalizadas, dando um colorido diáfano em flor pura de algodão, teríamos à vista de um mundo torpe, construtores de sonhos, sem no entanto abdicarem de todos os nomes que os seguiram. Assim, não teríamos o olhar castrado por uma cegueira míope, que de tanto ser ceifada, comunga todos os Domingos na capela do Santo que se erigiu, em troca de algumas palavras coalhadas e concentradas numa malga de pobres migalhas.

Serão estes seres, sempre que lhes cresçam as asas, que nos darão uma nova visão de um mundo que não sabem que existe, porque lhes cortaram a raiz do pensamento à nascença. Ficaram com as células do cordão umbilical confiscadas e atestam de mãos dadas e erguidas aos céus, que nunca se encontraram às portas do altar-mor.

Revezam-se, sempre que há rituais nas manjedouras onde bebem da seiva de alguns imortais, por pensarem que serão estes, que irão excomungar os bandos de almas perdidas.
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(Foto, Dolores Marques)

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