Livres no pensamento são todos os que puderem assimilar a verdade de única sílaba tónica que sem poder acentuar palavras, se desprende de um voo lento para cair nas correntes fortes de um rio. Na verdade, serão únicas, as várias tonificações das palavras que se encolhem e se preparam para novos voos mais profundos. Lá, estaremos nós para as acolher nas suas verdades, nos seus propósitos de serem fontes inesgotáveis, enquanto mantivermos esta força única de um ponto. Viver além da dor, é sentir no corpo esta força viva, pronta para desflorar num pensamento pontificado. Será ele que nos leva para um local desprotegido, se não mantivermos a ligação à chama que sempre se mantém acesa, para dela recebermos todos os ingredientes que necessitamos e deixarmos a vida passar, sem dela fazermos grande aparato. Ter presente na nossa mente, que há nós que se desatam e outros que se assemelham a formas continuadas e enroladas à nossa cintura, é sabermos igualar os gestos de um corpo.
Quero muito ser livre, quero muito encontrar-te nessa tua realidade, quero que tudo o que venha desse ponto minúsculo, se mantenha como rastilho na minha mente. Preciso dessa leveza solta nas minhas ideias, para que te possa sentir a viajar por todas as artérias que transportam as correntes sanguíneas do meu corpo. Sem isso nada poderei dizer-te porque não te sinto certeza na minha verdade, nem verdade na minha realidade. Vejo-te eu, sem saber de mim, sinto-me tu sem saber de ti, e não aguento esta dor perfilada no meu pensamento quando te penso solto(a) por aí. Gostava de poder deixar-te ir, mas não estou ainda preparada para essa verdade que já existe desde que nasci. Este medo, esta loucura presente, esta lucidez inconsequente, que me transforma anulando-me por completo, são o cárcere onde habito, se não souber encontrar o ponto fulcral onde tive início. Preciso saber-me na cor deste espaço fechado, encontrar-me com esta solidão e questioná-la sobre as nossas mais exactas verdades, num momento expandido nos nossos corpos, compostos por fragrâncias, fiéis depositárias de novos conhecimentos da vida, por detrás de vidas. Sei que há um deles que só eu poderei conhecer, se dele me aproximar no preciso momento em que souber deixá-lo ir.
Serei sempre aquela que te disse um dia de um amor presente, de uma dor constante, de uma vida que sem ser vida num instante, é aquela que escolhi para te dizer de mim. Viverás nesse encolher de ombros, ou nessa expansão dos gestos, sempre que quiseres lançar para a atmosfera, um sentimento que nada te diz, e eu feliz por assim ser, voo junto e fico sentada à tua espera, porque sei que um dia chegarás lá, nesse ponto minúsculo, mas gigante na leveza de um olhar feliz. Esse não terá cor, nem te trará o sol, nem a lua nem tão pouco as estrelas, mas tão só, a vida que escolhi para mim, quando te disser:
AMOR – a única palavra que me faz viver em liberdade, em busca da harmonia de um corpo que se abrirá sempre, e fará de todas as estações, a Primavera dos Tempos. A única palavra que transformará as minhas ideias, num sentimento capaz de te dizer que te AMO, quando conseguir fazer-te a saudação de dentro da minha solidão e te disser que a chama que me alimenta, vem de ti, porque nela fiz nascer esta paixão que sempre me acompanha, tonificando todos os pontos que já começam a formar novos traços, na composição aquosa do meu corpo.
MEDO – a única palavra que me faz querer, sem saber o quê, por não poder ter o que não me pertence. Sentir que este sentimento que me alimenta, é composto por partículas desagregadas de um todo que nos uniu, mas que, também elas, por se terem perdido, criam este efeito paralisador, alternado com o pensamento. Não te quero(a) perdido(a) por aí, porque para me sentir bem, terei que saber de ti. Fica então neste patamar onde guardo todos os meus segredos, mas não sejas segredo para mim, porque não quero perder-me quando pensar em te procurar.
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(foto, Dolores Marques)
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