terça-feira, 1 de setembro de 2009

Marcas

Seduz-me ficar assim pela noite dentro, a lembrar o que foi e o que não pôde ainda ser, e até o que irá acontecer em sonhos. Ao menos isso! Mera falta de jeito. Se teu ou meu, não sei, só sei que devemos ter sido moldados pelas mesmas mãos, aquelas que trazem os moldes sobre o ventre materno. Há sóis dourados por todos os lados; nas pontas, em cima e em baixo. É um Deus nos acuda de tantos e tão belos que se nos focarmos neles, marcarão a nossa pele com traços de um verão quente e paralisante. São estas as marcas que te trazem junto a mim, sempre que te penso deitado ao meu lado.

Se eu pudesse marcava a nossa vida para a eternidade, conduzia-te pelos espaços verdes e macios, rolávamos na erva fresca e sentíamos esta cor quente que bafeja das entranhas das rosas que se abrem só para nós. Este vermelho vivo, pode ser a cor dos meus sonhos daqui em diante, se pensar nela como a ligação à terra mãe, através do chakra da raiz. É ela que me sustém neste mundo que escolhi para me rever num futuro próximo, contigo a meu lado. Se te deixares também seduzir por ela, verás a cor do teu sorriso, sempre que colocares as mãos no meu peito e as desceres junto ao abdómen, e aí, sentirás este fogo que vem das profundezas da crosta terrestre carregado de pétalas vermelhas. Absorverás este suco adocicado das rosas e o seu odor característico que nos perfumará a pele, amaciando-a num estado alquímico e inalteradamente sentiremos os contornos dos nossos corpos unidos num só.

Serei toda uma rosa a abrir para ti, e tu colherás na tua boca este travo que habita nos meus lábios. Seremos um jardim aberto para o mundo, se este chão onde rolamos nos oferecer o espaço necessário para que os nossos corpos se enlacem e se cubram de um verde resplandecente, para que, através do chakra cardíaco, nos entreguemos a este amor feito de rosas que perfuma este colo que se ajeita nas esperas, sempre que ficas assim do lado de lá, mas pronto para embarcar para o lado de cá. È neste trajecto multifacetado, que te encontro nos mitos do tempo, que habitam estas quatro paredes onde me deito. São elas o meu refúgio, ouvintes dos meus gritos neste silêncio que chega a ser aterrador de tanto sofrer, por não conseguir evadir-me para o lado de lá. Seria neste trânsito, circunscrito no tempo, que me demarcava deste sono, desta leveza de ser mais que um corpo à espera de aromas quentes, de um toque sedento de mim por ti e em nós. Se nos distanciarmos do mundo, e nos prostrarmos bem no centro onde as esperas nos aguardam, seremos um tempo perdido no tempo de ninguém, mas seremos também habitados pelos rumos que a nossa história contém.

("As Escuras Encontro-te" - Um livro que há-de vir)

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