Depois de algumas brincadeiras na praia, e uns quantos mergulhos nos pequenos lagos, regressamos para um piquenique debaixo da sombra dos pinheiros. A euforia era muita. Os meus netos, Guilherme, Afonso e Tomás, numa tarde de domingo a dar largas à sua imaginação de crianças. Vasculhavam tudo, o que a seus olhos, despertasse curiosidade. Após o almoço, alguns jogos, e outras brincadeiras, que se pudessem ter em cima das mantas estendidas no chão, para também, descanso do corpo, pelas horas que passámos a pisar a areia da praia.
Era chegada a hora de regressar. Enquanto todos tentavam arrumar as tralhas nos sacos, eles arriscavam ir mais longe. Para não se afastarem muito dali, eu tentava atrair a sua atenção para o que havia caído no chão. Pedia-lhes para procurarem pinhas. Fiquei curiosa para saber se eles as reconheciam todas, dado que algumas tinham caído dos pinheiros ainda bebés e não se encontravam abertas. Para a sua tenra idade, tudo é o novo, tudo é conhecimento de vida, mesmo a que vive nos galhos dos pinheiros. Após alguns minutos, todos eles tentavam pegar as pinhas que encontravam, mas sem sucesso, pois as suas mãozinhas ainda pequenas, não conseguiam pegar em mais do que uma, para me trazerem
Chegados ao local, onde iriam ser sentados e bem aconchegados nas suas cadeiras dentro das viaturas, eles faziam tudo para não entrar. O Gui virava-se para um lado à procura de mais descobertas, o Tomás, corria à volta dos carros em círculo, e o Afonso, simplesmente parado, junto ao tronco grosso de um pinheiro. Sem sucesso para os conseguir demover das suas brincadeiras, reparo no olhar do Afonso, com a cabeça muito inclinada para trás a tentar furar com o seu olhar, todos os espaços em branco que os ramos dos pinheiros deixavam quando da sua disposição; ora para os lados, ora para cima, direitinhos ao céu. Os seus olhos estão fixos num ponto. Penso que estaria a pensar.
“Será que o céu descansa em cima dos últimos ramos daquele pinheiro?”. E ele próprio estaria a ver como conseguir tocar o céu?, pensava eu. Aproximei-me, mas ele não desviava a atenção daquele ponto. Não dava sequer pela minha presença. Disse-lhe:
-Já viste Afonso, como é gigante essa árvore, com um tronco enorme. Tem já muitos anos que está aí.
Ele olha para mim e pergunta-me:
- Sabes porquê avó?, ao que lhe digo, - Não Afonso, não sei, diz-me tu.
Ele, muito prontamente afirma:
- Avó, ele cresceu assim porque bebeu muita água.
- Pois foi Afonso, ele bebeu muita água para poder ter esse tamanho. Foi o que consegui dizer-lhe, porque de seguida dirige-se para os pais que o aguardavam para entrar no carro. Seguimos viagem.
Em casa, eu conto à minha filha Milene o diálogo com o Afonso. Este foi curto mas com todas as palavras que ainda ficaram por dizer. A Milene contou-me, que, nas férias estiveram em contato com a natureza e que abraçaram muitas árvores. Os pais ensinaram-lhes (a ele e ao irmão), que devemos proteger a natureza, porque as árvores para continuarem a crescer, precisam de beber muita água, e que por isso, não a devemos desperdiçar.
Lição aprendida e apreendida, penso eu, pois o Afonso não perdeu oportunidade de ma transmitir, para que também eu a soubesse.
(Até quando nos manteremos na ignorância, quando vemos uma criança de 4 anos a dar-nos lições de como proteger a vida, que de ignorante só tem aquilo em que nos transformamos - UMA ÁRVORE COBERTA DE PEQUENOS GALHOS JÁ SECOS).
(Dolores Marques/ Afonso Faria )
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