terça-feira, 1 de outubro de 2013

Onde ficou a lua Avó?


Tinha ficado com os meus dois netos, Guilherme e Afonso. Um final de dia quente. Um início de noite que convidava ir até à varanda. Correram de um lado para o outro até se cansarem. Por fim, vieram sentar-se junto de mim. Aguardavam que algo mais, os pudesse despertar para novas descobertas. A vizinha, uma criança com quem de vez em quando trocavam conversas, já se tinha recolhido. Mas eles não estavam dispostos a cumprir com o horário de se deitarem, como era hábito com seus pais em casa. Sentia-se já a aragem fresca da noite. Tentei levá-los para dentro, mas eles preparavam-se para mais umas corridas nas suas bicicletas. Tinha que os demover, tentar acalmar os ânimos, para depois os convencer a entrar para que dormissem. Era já tempo!

Chamei por eles para lhes mostrar uma descoberta no céu. O primeiro a chegar foi o Guilherme. Pergunto-lhe:
- Gui, olha como brilha aquela estrela no céu!
 Ele fica a olhar a estrela muito brilhante. De seguida, os seus olhos tentam vasculhar outras estrelas. Eu insisto:
- Gui, consegues descobrir a lua? Ele olha com muita atenção e diz-me: 
- Avó,  já encontrei a lua. Consegues ver? Está ali, indicando-ma com o seu dedo minúsculo. 
O Afonso olhava o céu, mas em silêncio. Alguns minutos depois convenci-os a entrar em casa para depois os deitar.

Um ano mais tarde…

O último dia na praia, deixou marcas na areia. O Afonso, com as suas mãozitas, tentava a todo o custo, fazer um buraco tão fundo, que às páginas tantas, se desequilibrou e enfiou o braço todo nele. Pediu-me ajuda para o puxar para cima. Eu, já não via a hora de ele desistir de cavar mais fundo naquele piso duro, húmido e arenoso, resolvi abrir alas e descobrir algo com que pudesse despertar-lhes atenção. Foi então que vi um galho seco de um arbusto. Desafiei-os para desenhar o sol na areia. Desenhamos o sol, e até cada um deles: primeiro o Guilherme e logo de seguida o Afonso, assim como o pai, a mãe e até eu própria. Deslumbrados com a sua capacidade para desenhar figuras na areia, não queriam outra coisa. Por eles ficavam ali o resto do dia.

Uma semana após este episódio na praia, e já em casa, o Guilherme olha-me nos olhos e pergunta-me; 
- Avó, lembras daquele dia na praia? Ao que lhe respondi, 
- Sim lembro, porquê Guilherme?
Ele sorriu e disse-me: 
- Pois avó, foi tão divertido!
Nesse final de dia, da mesma varanda, vi o Guilherme muito atento a olhar o céu. Perguntou-me.
 - Avó olha tantas estrelas no céu. 
- Sabes porque o céu tem esta cor? Pergunto-lhe - Qual a cor do céu? Ao que ele de imediato me diz:
- Avó, é azul-escuro, porque é de noite, mas de dia tem outra cor - azul claro. Sabes porquê avó? Porque de dia há sol. À noite chegam as estrelas e a lua. Mas avó, hoje não se consegue ver a lua. Onde ficou a lua Avó?
 Observo-o a dirigir o olhar para as nuvens que impediam a lua de iluminar os seus olhos. De novo se dirige a mim:
- Avó não se vê a lua, porque aquelas nuvens não deixam, mas quando ela passar para lá, já a podemos ver. Vamos esperar?
Entendi perfeitamente. Para além de me querer mostrar a lua, queria também mostrar-me, que ainda era tempo para mais umas brincadeiras antes de ir dormir.

(O tempo, é ainda para o pensamento de uma criança, também uma criança inocente. Nós utilizámo-lo como desculpa, quando queremos que o tempo pare aos olhos dela)

Dolores Marques / Guilherme Faria

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