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Bem gostaria de me permitir ser em todos os dias como o vento a querer saltar os muros que ladeiam a minha casa. Estão agora cobertos de musgo. Arredei todos os tijolos de vidro, para que não se sentisse nenhuma silhueta na parte de fora. Cobri-os com tinta plástica da cor do alcatrão e até colei neles recortes de jornais diários, onde se podem ler as notícias todas que nos fazem cair em nós logo pela manha. À noite já não é a mesma coisa. A tinta escorre, os recortes ficam todos torcidos, e ainda se podem ver transparências a quererem sair de um espaço fechado.
Hoje à noite ligarei a Televisão no canal panda. Aprendi com os meus netos. Nada melhor do que passar um tempinho antes do jantar a ver desenhos animados. Animam, animam e descontraem os músculos da cara. Não fico com os olhos tortos, se é que me faço entender. Se não entenderem, é porque não têm o canal Panda e vêem a casa dos segredos, ou a Gabriela. Não! A Gabriela já terminou! Dessa até gostava. Não tenho mais nada que me faça rir à noite. Gostava mesmo daquele ar descabido de alguns mestres das artes antigas, a tentarem usar o que por si só já está mais que usado. Aquela frase deixava-me de pernas para o ar de tanto rir. “Deite-se que vou-lhe usar”.
Bem, mas agora pensando bem, vejo que terei que pintar os muros com outras cores. Vou usar cores berrantes e grafitá-los todos, para se poderem ver de cima. Assim, quando o vento se quiser fazer ouvir nos meus ouvidos e estiver para chegar, poderá lançar-se em pára-quedas . Fica logo em casa. Para alguma coisa terá que servir este meu esforço, em ter cores que saiam fora do âmbito normal dos usos e costumes de um povo a construir muros e outras coisas.
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