Sobre “BORBOLETAS NO AQUÁRIO ” de Mário Massari - o Poeta/ o Homem, que me convidou a escrever algo, para que ficasse no seu livro
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Deixando-me seduzir pelo abstracto figurativo de Mário Massari, irei de encontro ao seu dizer, ao seu querer ser em todos os poemas, um mundo a descobrir novos mundos. Será este um voo recto ao encontro da verdade que a sua transcendente busca me mostra - um todo que permanece intacto na sua forma enquanto Poeta? Será somente um voo oblíquo, levando-me para o interior de uma sequência de imagens que me mostra a vida num conjunto de formas modeladas nas suas mãos, enquanto Homem a caminhar sobre a terra? Em todas as minhas movimentações para me encaixar neste trajecto, encontro uma certeza, a de que as palavras que compõem o seu estilo sui generis, se predispõem a seguir novos rumos, a escalar montanhas, a levitarem por entre as brumas da memória ao dizerem-se a elas próprias, enquanto recebem vida para a composição de uma história exequível, transcendendo a realidade factual, sulcando um vazio, através de caudais sistémicos, dando vida à própria vida. Enquanto Poeta/Pessoa, Mário Massari, tem a capacidade me fazer entrar num mundo; adverso por vezes, afável outras tantas, tais os modos e formas que me obrigam a novas movimentações a tentar renascer das sombras.
É um facto, que Mário Massari tende para uma composição que pode ser observada em diversas matizes, obedecendo por um lado, a verticalidades faustosas nos mais distintos e aparatosos ângulos que nos dão uma visão distorcida da realidade, mas, por outro, a uma encenação perfeita, que sabemos ser a verdade dos nossos olhos, retinas luminosas a quebrar cansaços e a disfarçar a penumbra que nos vai transformando em paradigmas de uma inteligência exterior, mas fecundada num interior vazio, num tempo de memórias.
Todo o poema é caracterizado por uma ordem que o poeta tenciona manter. Contudo, atendendo aos vários predicados do poeta, ele deixa de ter uma ordem para obedecer a várias ordenações onde o ser se faz vida, e a vida se revela em vários seres, movimentando-se através de várias circunstâncias que irão dar luz própria ao poema. Se por um lado o poeta vive à custa do que o poema lhe exige, por outro sobrevive uma pequena centelha que vai crescendo para lhe dar cor, movimento e sabedoria interior, num labirinto de saudade, onde só se perde quem pretende ser vision
ário do fantástico mundo a descobrir: um jogo multifacetado de cores, um corrimão de espelhos que lhe permite observar através do seu próprio reflexo, a dimensão que o separa da realidade que lhe foi dada à nascença. Transfiguram-se assim todas as partes densas, sempre que na sua órbita circunda um movimento aberto a novas abstracções, a tentar descobrir o destino que lhe cabe nas mãos com as palavras todas que o merecem.
São estas figuras desenhadas nos traços que o caracterizam Homem/Poeta/Pessoa que lhe irão transmitir onde e como chegar à essência que lhe é dado observar, sempre que tentar sair de um espaço fechado ao alargar os horizontes através de uma focagem direccionada para o mundo exterior. A sua poesia, transcende a realidade física, o toque, a observação linear, para que nos movimentemos através de uma filosofia de vida que nos mostra onde e como começar a elevar o pensamento, a tocar um mundo que está tão perto, como perto estão todos os olhares que se levantam e iniciam o único voo possível. Aquele que nos fará chegar, (sem no entanto termos a percepção da viagem), à conclusão dos actos que nos fazem ir, voltar ou simplesmente obedecer aos espaços que se abrem, e ficar lá, até ao próximo voo mais profundo, num universo interior saciando a nossa sede de amor, de fraternidade, de compaixão, unificando os pontos e traçando novos limites no tempo.
Dolores Marques - 2011
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