Na contemplação das águas antevejo as longas horas de silêncio, que, abruptamente se deixam por ali ficar... a remoer, emaranhadas na suave textura dos reflexos da lua, que, ora tímida, ora indiscreta, consente-se no avolumar das horas, ser só mais uma sombra.
E, assim sendo, nem o meu corpo se prestava a ser nada mais do que um sombreado a balançar na corrente.
Temo os dias profundos, nos fundos.
Temos as horas deitadas nas sombras das águas.
Um tremor a mais por sentir o meu corpo a tremer, por dentro de um fundo, onde morrem as sombras.
Um olhar adiante, a entrar pela quilha de um barco atracado no cais...a navegar...
Somente um náufrago no caminho sombreado das águas.
Um relógio antigo a balançar como um rasgo de tempo, dependurado num dos bolsos.
Um tempo marcado pelos estilhaços dos ponteiros tortos a dançarem por dentro, entre o vidro quebrado.
Temo a vida das sombras deitadas no rio.
Temo as sombras dos barcos, e até as sombras provenientes dos reflexos lunares.
Temo o meu lado lunar e o teu, na entrega a um baptismo sombreado.
Temo tudo o que se move nas sombras e não dá as caras, e os olhos, e a boca para um beijo trocado.
Simplesmente um beijo com alguns salpicos da lua.
ÔNIX