segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Desencontros

Andava sempre a cirandar pelas ruas. A noite era a sua companhia. Alimentava-se nos escombros, onde outros pernoitavam. Roubava-lhes os sonhos, esquartejava-lhes o pensamento, sugava-lhes as memórias. Mas, de nada adiantava. Nem as ruas reconheciam o seu desejo de se sentir gente nas ruas. 
Era tamanha a azáfama que se esquecia de si. Já nenhum beco esquecido em alguma rua, aceitava os seus passos. Assim, continuava a caminhar sem destino, até que este, decidisse aparecer para cumprir a profecia. Foi então que se deu por feliz, quando as ruas lhe fizeram a saudação. Finalmente abriu os olhos à luz que lhe indicava tantos outros caminhos. 
Ignorou e continuou a insistir naquele que escolhera, até que chegou por fim, ao final do caminho. Ansiosamente esperando por mudanças, mas resignado à sua condição ignóbil, descansa ainda o seu corpo da última jornada. Foram tantos os desencontros. 
Encontra-se agora a sua alma rondando o espaço que ocupa. Esperando…. 

Dolores Marques; Dakini

1 comentário:

Filipe Campos Melo disse...

O desencontro pressupõe prévio encontro
talvez na memória desse momento
se reergam os caminhos

Bjo.