sexta-feira, 8 de setembro de 2017

O sonho Maior da Raça Humana


Ignora-me como eu a ti e seremos dois ignorantes a sentir um e outro a força do Adeus imaginado. 
Já nos demos conta do tamanho da ignorância, quando os nossos corpos deitados, um sobre o outro, não pensavam. 
E, copiados os gestos do adeus, íamos sendo levados pela corrente do pensamento afogado.
Ignora-me como eu a ti, e sentiremos nos olhos um furacão mendigo, a encher os becos onde dormem de pé os sem-abrigo.
Ainda que os sentidos se percam no imaginário mundo subvertido.
Ainda que tudo se revele reincidente na boca dos homens.
Ainda que seja breve a passagem da Primavera pelos nossos corpos. Ainda que breve a passagem das estações. 

Ainda que no altar da noite não se avultem novos sonhos.
Ainda assim, e apesar disso tudo, seremos todos seres de luz. A luz expulsada pelo ventre materno.
Ainda assim, e apesar do passado morto e enterrado, não deixaremos de ser partículas dessa mesma luz, ainda que um todo desintegrado.
E a viagem será do centro para o centro, num parto jamais igualado.

Divinos são todos os momentos que nos trazem o Divino. 
Sagrados são aqueles sonhos que nos levam longe na busca do sonho maior. E, maior do que o maior sonho, no sono, é quando a noite nos elege mentores da nova Era, e à imagem de Deus subimos e descemos, à terra dos justos.
Vamos então pela noite dentro à procura do mundo novo, o mundo virado ao contrário.
Sensíveis são todos aqueles momentos que nos elegem tais as formas geométricas no Templo Sagrado. 
Todas elas são um traço simbólico do caminho.
Todas elas são a claridade ainda que no mundo obscuro de incongruências, face à cegueira que anulou os sentidos de quase toda a raça humana, do passado e do presente inacabado.

O tempo do homem do passado a fechar-se no seu corpo.
O corpo da mulher, no presente a retroceder ao passado do homem trancado, vendado. É o seu guia.
Ainda que cerrados os tempos todos, a mulher tal partícula de Deus, a Deusa com o colo sempre aberto
E, ainda que não veja, o sensitivo tem a luz do Poema por dentro.
Cego nunca o será!

E a terra assemelha-se em partos, cujo colo será sempre o centro do maior centro intercalado: sem vendilhões no templo nem arcas da aliança fechadas.
Subiremos ao nível mais alto da noite, e que ela se abra como se fosse um nascimento do nosso maior evento.
Vamos então pela noite dentro em busca do maior sonho, perdido. O sonho maior da raça humana.

ÔNIX (Dolores Marques)

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