- À altura da minha cabeça, só mesmo eu, para poder interagir com aquilo que vem do alto. Uma chusma de zumbidos a clarificar os sons e a tentar entrar pelos meus ouvidos. Os meus passos, um à frente e outro atrás e as batidas cardíacas agora mais acentuadas. Olho para cima e ainda falta um bom par de lanços de escadas. O cansaço venceu-me e páro por aqui. Procuro um degrau mais limpo para me sentar. Afago-o com as palmas das mãos, e o pó, é agora uma mancha escura nas pontas dos meus dedos.
- Já te tinha visto em situações idênticas, quando vais às terras altas. Aquela calçada dá cabo de ti. Não entendi ainda porque lhe substituíram as pedras originais, pois se eram aquelas formas polidas de xisto que lhe davam a graça, fazendo com que a subida fosse mais pousada, quando apoiados os pés, naquelas formas que por norma se fechavam em torno dos nossos pés. Cada pedra com a sua cor específica, fazia-me sempre voltar atrás e sentir que a cada pegada um bom par de braços a depositou ali. Agora são só pedras mal formadas e toscas, todas da mesma cor, como se pudéssemos todos ter a mesma força de braços e as mesmas formas nos pés.
- Enquanto isso, dou agora passos mais certeiros, olhado o amontoado de cascalho que não dá sinais de vida debaixo dos meus pés. Ouço-lhe o som rasgado de um choro preso nos calabouços de uma qualquer pedraria, onde o granito é tosco. No entanto, a terra sabe-o bem nas suas mais extravagantes luxúrias, sempre que se dá a ele, e ele se dá a ela. Já nem sei se os meus pés têm a mesma firmeza como quando subiam os montes, para lá se equiparem de mais uma força necessária às últimas pegadas que darei em outro chão.
- Algures em terra batida, há pegadas que se debatem para formarem círculos uniformizando a força de um bom par de braços. Já reparaste que os braços nus, deixam a nu, toda a elasticidade do corpo? As pernas serão sempre uma forma de conjugar os movimentos, de modo a que os braços sejam a força das pernas e as pernas sejam a continuação da força dos braços. Uma forma única do corpo se movimentar e não se deixar cair de bruços, sobre as pegadas que jazem mortas no chão. A terra acolherá sempre uma força de muitos braços a cair-lhe em cima, mas, se porventura as formas caírem, então a terra será a morada certa para que a vida seja sempre vida, e a morte sempre morte a caminhar para lugar incerto.
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