quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Se hoje fosse o último dia

Se hoje fosse o ultimo dia do ano, ficaria revoltada, se não conseguisse escrever-te uma última carta
Se hoje fosse o último, dos últimos dias do ano, ficaria assim caída, e os meus dedos seriam a presa fácil de um teclado vivo

domingo, 26 de dezembro de 2010

Onde os segredos ganham forma



A noite neste lado da serra é uma noite inquieta, uma noite sofredora pelos ventos que carregou em vida. É somente uma noite através da única luz reflectida dos momentos que ainda sobrevivem de outras noites. Esta é agora a minha noite. Tenho-a inteira sobre os meus olhos, apesar dos pingos de chuva que se ouvem cair nas pedras da calçada. (Gostava do tempo que me fazia percorrê-la e senti-la sempre uma nova calçada nos meus pés imaculados, pelo toque de mãos virgens cálidas, e sem norte).

A neve que escorre do único talegre, que se avista ao longe por entre as serranias, é o indício de que novas divindades descerão dos céus . Contudo, a noite sofre pelos tempos idos e não tidos na sua fronte decepada, nos longos caminhos que percorreu em vida, e o dia, esse não lhe dá tréguas e traz sempre em todas as manhãs, um novo formato, de como deixar de ser noite, para passar a ser um posto erguido nas fronteiras onde os segredos ganham forma. (Os entrudos esperam por todas as páscoas, para nos lembrar que os moribundos descem das encostas, quando Dezembro é em todos os Natais, a força que nasce em cada dia. Enquanto isso, em cada rosto aguarda-se o dia certo, para ser mais um corpo na montanha, espera-se por um novo mundo que renove todos os olhares e pelo resgate da humanidade enquanto força una, num único Universo, onde os duendes ainda têm olhos e as forças contidas num rosto cativo, ainda trazem as lembranças de quando se faz tarde num rosto inocente.

Caminho sobre a noite, mas ela é o silêncio de todos os meus passos, de todas as lembranças que trago de outras noites, onde as luzes dos candeeiros se apagam sempre á mesma hora. É lá que me dispo de um corpo que me é o inverso. Tenho nos olhos a doce figura de uma lembrança de outros tempos, mas não posso ficar indiferente à transfiguração humana que carrego, desde que a vida se transforma a cada passo que dou, na calçada que me descobre os novos passos

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Revolução Celular Interna




Convidei-te para te sentares à minha mesa, saboreares do meu banquete e beberes do mesmo cálice que me traz a vida, que me tem vida em todos os licores doces que bebo quando sentes a sua suavidade, o seu cheiro proveniente das uvas maduras, esmagadas pelas minhas próprias mãos. Tenho-te em todos os momentos que meu corpo me pede em jeito de oração, para que as noites sejam só um mero episódio no tempo, e que esse mesmo tempo, seja a dádiva presente, o amor que reside em mim desde que o mundo é mundo. Amo, não quem a vida te transformou desde que aqui chegaste, mas tudo o que te deu origem – a própria vida que brota agora das tuas mãos, e que também te fez Homem a caminhar sobre a terra, onde eu também estou.

Tens a força das terras altas, onde as pedras são detentoras de uma magistral forma elevada de ser. Por isso, te sinto assim, uma força a rasgar todas as frias emoções que me extravasam a mente, colidindo com o meu corpo e aconchegando a minha alma aos teus dedos ainda virgens, aos traços coniventes com o meu olhar onde te encontro, sempre que faço da minha entidade viva, a força que me há-de levar inteira a um reino ainda a existir. É um lugar onde as palavras se encolhem sempre que as esquento, para caberem nas minhas mãos. Sentir-te nas minhas palavras, conhecendo-lhes a verdadeira sensação que provocam em todas as células do meu corpo, formando uma pequena revolução celular interna, talvez… Sou genuinamente uma leve ornamentação colhida de primaveras de outros tempos, de outras madrugadas ainda em renovação, para que o dia seja aquele traço infinito a decalcar-me a longitude dos meus braços, a transformar em ramos as minhas mãos e em folhas os meus dedos. Serei sempre uma duradoura imitação barata de uma figura tua, prestando-se a seguir viagem por todos os lugares onde já estive. Deixaram-me seduzir pelas gloriosas lutas de outros homens, que já caíram e que e a terra absorveu como raízes doutros tempos, em que a força era uma forma de atingir os céus. Agora nada me fará acatar outras formas de vida que caibam nas tuas mãos. Sou só uma lenda nos teus olhos de lince a barafustar a terra em busca de um novo solo, e grão a grão, semearás novas sementes, e novos caminhos se abrirão.
Caminho só, e tão-só como nasci hei-de morrer e renascer em cada momento que me fez mulher enquanto força sobre a terra: mãe tornado, mãe vento, mãe serra, mãe rio (do meu rio), mãe lava de um mesmo vulcão a seduzir todas as águas dos oceanos, mãe terra a esburacar a mundo e a levar novas missivas, detentoras de coragem a quem quiser todas as formas de vida moldadas nas suas mãos.