Convidei-te para te sentares à minha mesa, saboreares do meu banquete e beberes do mesmo cálice que me traz a vida, que me tem vida em todos os licores doces que bebo quando sentes a sua suavidade, o seu cheiro proveniente das uvas maduras, esmagadas pelas minhas próprias mãos. Tenho-te em todos os momentos que meu corpo me pede em jeito de oração, para que as noites sejam só um mero episódio no tempo, e que esse mesmo tempo, seja a dádiva presente, o amor que reside em mim desde que o mundo é mundo. Amo, não quem a vida te transformou desde que aqui chegaste, mas tudo o que te deu origem – a própria vida que brota agora das tuas mãos, e que também te fez Homem a caminhar sobre a terra, onde eu também estou.
Tens a força das terras altas, onde as pedras são detentoras de uma magistral forma elevada de ser. Por isso, te sinto assim, uma força a rasgar todas as frias emoções que me extravasam a mente, colidindo com o meu corpo e aconchegando a minha alma aos teus dedos ainda virgens, aos traços coniventes com o meu olhar onde te encontro, sempre que faço da minha entidade viva, a força que me há-de levar inteira a um reino ainda a existir. É um lugar onde as palavras se encolhem sempre que as esquento, para caberem nas minhas mãos. Sentir-te nas minhas palavras, conhecendo-lhes a verdadeira sensação que provocam em todas as células do meu corpo, formando uma pequena revolução celular interna, talvez… Sou genuinamente uma leve ornamentação colhida de primaveras de outros tempos, de outras madrugadas ainda em renovação, para que o dia seja aquele traço infinito a decalcar-me a longitude dos meus braços, a transformar em ramos as minhas mãos e em folhas os meus dedos. Serei sempre uma duradoura imitação barata de uma figura tua, prestando-se a seguir viagem por todos os lugares onde já estive. Deixaram-me seduzir pelas gloriosas lutas de outros homens, que já caíram e que e a terra absorveu como raízes doutros tempos, em que a força era uma forma de atingir os céus. Agora nada me fará acatar outras formas de vida que caibam nas tuas mãos. Sou só uma lenda nos teus olhos de lince a barafustar a terra em busca de um novo solo, e grão a grão, semearás novas sementes, e novos caminhos se abrirão.
Caminho só, e tão-só como nasci hei-de morrer e renascer em cada momento que me fez mulher enquanto força sobre a terra: mãe tornado, mãe vento, mãe serra, mãe rio (do meu rio), mãe lava de um mesmo vulcão a seduzir todas as águas dos oceanos, mãe terra a esburacar a mundo e a levar novas missivas, detentoras de coragem a quem quiser todas as formas de vida moldadas nas suas mãos.
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