domingo, 26 de dezembro de 2010

Onde os segredos ganham forma



A noite neste lado da serra é uma noite inquieta, uma noite sofredora pelos ventos que carregou em vida. É somente uma noite através da única luz reflectida dos momentos que ainda sobrevivem de outras noites. Esta é agora a minha noite. Tenho-a inteira sobre os meus olhos, apesar dos pingos de chuva que se ouvem cair nas pedras da calçada. (Gostava do tempo que me fazia percorrê-la e senti-la sempre uma nova calçada nos meus pés imaculados, pelo toque de mãos virgens cálidas, e sem norte).

A neve que escorre do único talegre, que se avista ao longe por entre as serranias, é o indício de que novas divindades descerão dos céus . Contudo, a noite sofre pelos tempos idos e não tidos na sua fronte decepada, nos longos caminhos que percorreu em vida, e o dia, esse não lhe dá tréguas e traz sempre em todas as manhãs, um novo formato, de como deixar de ser noite, para passar a ser um posto erguido nas fronteiras onde os segredos ganham forma. (Os entrudos esperam por todas as páscoas, para nos lembrar que os moribundos descem das encostas, quando Dezembro é em todos os Natais, a força que nasce em cada dia. Enquanto isso, em cada rosto aguarda-se o dia certo, para ser mais um corpo na montanha, espera-se por um novo mundo que renove todos os olhares e pelo resgate da humanidade enquanto força una, num único Universo, onde os duendes ainda têm olhos e as forças contidas num rosto cativo, ainda trazem as lembranças de quando se faz tarde num rosto inocente.

Caminho sobre a noite, mas ela é o silêncio de todos os meus passos, de todas as lembranças que trago de outras noites, onde as luzes dos candeeiros se apagam sempre á mesma hora. É lá que me dispo de um corpo que me é o inverso. Tenho nos olhos a doce figura de uma lembrança de outros tempos, mas não posso ficar indiferente à transfiguração humana que carrego, desde que a vida se transforma a cada passo que dou, na calçada que me descobre os novos passos

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