terça-feira, 10 de março de 2009

Invento-nos Uma Nova Escala Musical

Esta é uma noite para me debruçar sobre as sombras que ameaçam derrocar aqui mesmo, neste chão macio e brilhante cor pastel. Os meus olhos viram-te a rondar os meus pensamentos e evadi-me para lá deles. Esperaste que me fechasse e me trancasse às luzes da noite. São elas o meu porto de abrigo nos momentos em que a solidão me aguarda e me faz companhia até adormecer. Leva-me à vista de outras faces e eu observo-as sorrindo ao mesmo mundo que me viu nascer e morrer, em tantas, quantas vezes, eu abri os olhos a vários mundos. Como por encanto, admiro quase todas as que conheço. Estão ali sempre para mim. Tomo-as a meu jeito e há noites em que uma lágrima teima em soltar-se do seu abrigo nocturno. Assalta o espaço que se mostra na escuridão dos dias que se prestam a nada. Nem mesmo a noite os abarca, neste que é um leito doce das maravilhas que os sonhos trazem por entre portas e janelas das casas de uma cidade fantasma.

É sempre assim quando me mostro solta e indiferente aos dias que passam, sem um brilho no olhar. Este é um dia para comemorar, na noite que me faz atravessar portais translúcidos no tempo, me encontro na tua paz, aquela que por vezes esqueço. Quero-te nas lembranças do tempo, que foi para nós um misto de dor, matizado com as cores da alegria que se encontra sempre nas bifurcações de onde se soltam odores florais. Visto-me sempre com o sol de verão, as cores Outonais, os respingues da chuva de Invernos ancestrais e completa-se o círculo mágico bordado em orações até ao despontar das mimosas flores cor de arminho, rosáceas nos caminhos que atravesso ao amanhecer. Se quiseres continuar a ser uma flor que brota nas noites em que me disponho a ter-te, eu abro-me a ti num enlace perfeito. Enrosco o meu corpo no teu, visito-te nos teus embaraços toscos, dou-te as minhas mãos e ofereço-te os meus lábios sedentos dos teus. Quero-te os sabores do mundo em desespero pela mudança, em que os dias cantam nas noites, e as noites dançam nos dias. Uma música simples numa escala vasta e coberta de outros sóis.

Combinam-se as vozes e ensaiam-se os diversos tons, que se encostam aos muros das lamentações. Treinei já os meus; são vários por sinal, mas o Fá está mais à mão, é o meu jeito entre o dar e o receber e por querer estar de Fa(cto) distante do Ré. Quanto mais alto chega a minha voz, mais baixa me sinto em relação ao céu. Por isso re(elegi) o Fá e foquei-me num céu mais próximo de mim, aquele que eu sinto e vejo perto do meu fim. Fa(minto), me consola num palco inventado por nós entre os dor(mentes) sonhos que se querem num só. Nesta escala musical, confundem-me sempre as notas expostas ao Sol. Já me expus a elas e fiquei cega de outros céus que em mim quiseram ficar, e por isso te tomo de uma vez só. Vais directo ao ponto onde te espera um sol que se abre a ti em ondas multicolores, na suavidade do teu corpo. Cais sobre mim e eu recebo-te como por impulso. Abandono-me no términos de um céu distante que mostra as cores de um arco íris em plena sintonia. Os cânticos, experimentam uma subida ao mais alto nível da sua voz, e esperam pelo germinar das flores, que se soltam por entre o meu corpo nu.
Sou-Te nas essências doces que se atrevem a cair sobre ti, aprendemos a navegar, numa ondulação até aos confins de um mundo a descobrir.

Sou o teu segredo!
Encontro-te sempre nos meus sonhos que se extinguem nas noites fartas de mim. Morro por ti e renasço sempre para ti e em nós. Não me encontras neste lado do mundo, sem o meu corpo nu. Mostra-se a ti, sempre que te encostas à noite e me vês a rondar-te a céu aberto.

Este é o meu pranto!
Chora lágrimas que correm num olhar e se querem um rio que se encontra sempre no mar.

Esta é outra escala musical , aquela onde nos fundimos num so.
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1 comentário:

Anónimo disse...

Bonita escala musical.
Tudo quanto escreve
faz sentido. Adoro a
beleza dos seus textos.

Um terno abraço

Alvaro Oliveira