segunda-feira, 30 de março de 2009

Gaia - A Terra Viva

Assistimos a partir da década de sessenta, ao surgimento de grupos que se mobilizam no sentido de alertar para a preservação do planeta. Por vezes, quando ouço esta frase, inclino-me perante mim e penso em todos os seres vivos em vias de extinção. Serei eu um desses seres, em conjunto com a terra? A sociedade moderna, na ânsia de preservar a sua espécie, e tentar afirmar-se cada vez mais, nem se lembra que está a contribuir em grande parte para a sua própria anulação completa, do que se pensa ser, partindo do princípio, de que se é, só matéria inerte. Extinta a matéria foi-se a totalidade do que se é. Este tipo de sociedade, supostamente desenvolvida, é responsável pelo estado em que se encontra esta nossa morada, que nos acolhe sempre de braços abertos.
Hoje sai à rua, o sol sente-se em grande força, para a época, e encostei-me a uma árvore. Queria sentir-lhe a sua força, e que ela me conduzisse para o centro da terra, e me fizesse criar raízes, longas e penetrantes. Lembrei de Júlio Verne e por consequência do filme “Viagem ao Centro da Terra. Ali, dei comigo a viajar por mundos que não estão às vistas dos meus olhos, mas que poderão existir. Há sempre, quem nos faça lembrar, mundos que se unem e se formam até à inclusão de um novo mundo. Espécies, extintas, dobras de um mundo só, que se partiu em pedaços, onde somos nós a parte existente que o fará erguer de novo, talvez numa outra dimensão.

Mas neste mundo do agora, desenvolvem-se iniciativas para a construção de novas mentalidades, e com elas a assimilação de novos hábitos, neste mundo, do qual fazemos parte como um todo. Alertam-se os países mais desenvolvidos, a utilizarem as novas tecnologias, de forma a evitar a poluição e preservarem o meio ambiente. Aconselha-se os habitantes do planeta, a contribuírem para minimizar os estragos, e colher os frutos, para uma estadia mais saudável a apetecível. Se Gaia, se tornar num local aprazível, nós seremos seres em férias permanentes, num local paradisíaco. Se somos uma ínfima partícula em consonância com o Universo, somos energia em movimento, numa ressonância perfeita.

Tudo está interligado e se a terra nos acolhe há tempos memoriais, ela também é, uma parte inclusa em nós. Vê-la também como uma entidade, com características de um ser vivo, e como tal em sintonia connosco, é primordial. Gaia, nome designado à terra, pela sua força espiritual vigente. James Lovelock, foi a primeira pessoa, após os gregos a dar um nome à terra in “The Reverenge of Gaia. Para que ela sinta a nossa vibração e se afogue nas nossas ondas energéticas e sacie ela também, a sua sede e a sua fome de ar renovado, as alterações terão que ocorrer, primeiramente em nós. Daí, sentirmos aquela necessidade de mudança, para atingirmos o equilíbrio, e os quatro elementos, terra, ar, fogo e água, sejam sons de uma sinfonia cósmica. É pois da nossa responsabilidade, preservarmo-nos, percorrendo os trilhos que se abrem na nossa caminhada, e sermos um só mundo no caminho evolutivo. Esta é a verdadeira ascensão, consciencializando-nos de nós por aqui e por aí, neste que é um mundo ainda a descobrir.

************Mª Dolores Marques*****************
“Até agora os meridianos energéticos de Gaia, têm sido considerados como incorporando polaridades, do masculino para o feminino, positivas e negativas. Agora contudo, o aspecto “criança” da trindade cósmica fundamental – o seu princípio neutro criativo, torna-se cada vez mais activo, quando uma nova era cósmica se prepara para nascer”

Jude Currivan

quinta-feira, 12 de março de 2009

Ontem o Sonho e o Mar.... Hoje o Rio e o Vazio e EU...

Ontem o Sonho!
Eu sou aquele sonho que se verte nas entranhas de outro sonho, ainda por nascer. Se me quiseres gravar na tua memória, fá-lo antes do nascer do sol. Na lua, há um registo de mim no seu brilho nocturno. Mostra-se sempre nas noites que me vêem nascer, quando o negro manto me cobre o rosto.

O mundo fantástico dos sonhos, é um mundo em permanente mudança, e eu uma ínfima parte dele, sempre que me predisponho a sonhar. Mas as vestes que me cobrem o corpo, põem a descoberto a nudez da alma, que tento esconder, sempre que as formas se gastam no mundo ainda por descobrir. A morte mostra-me sempre novos sonhos a sonhar. Dispo-me da vida e invento-me um mundo novo que espera pelo acontecer nos caminhos que percorro.

E o Mar...
Avanço sempre na direcção do centro, que se expande na fertilidade do azul do céu. São momentos raros que se lançam na imensidão de um mar audaz. O farol já não reflecte os sons que se inclinavam á minha passagem e lanço-me até ao fundo da noite, em busca da clara luz. Só ela me serve de aconchego. O céu povoado das cores da noite, veste-se de branco e segue os sinais cravados na minha pele. Registos de vários tons, num corpo esbelto, e sugado pelas marés, dança a dança dos rituais sem nome, aqueles que eu vi nascer, quando me arranquei de um sonho prestes a desaguar no mar. Concede-me gosto de te ver, quando à noite me dispo para te encontrar nos caminhos alagados de um suor morno. Os olhos abrem-se devagar, às vistas do precipício que tranca as portas quando me vê passar.

E os Aromas...

Sobrevoo os cumes mais altos das serras. Daí, avisto as ondulações quentes que se gastam numa praia deserta e os restos mortais das águas, lançam-se em desatino pelas dunas tristes. É lá que se deitam os aromas das flores silvestres e ejaculam essências nocturnas.

Hoje o Rio!
A corrente avança suava, quase a galgar o pontão por onde eu passo, livre, fora de paredes nuas e mentes cruas, que se gastam no mundo dos sonhos, presos ao sótão miserável dos afectos. Sou a outra face, aquela que reparte com a noite, um sonho de tonalidades raras. reinvento-me na totalidade de um mundo que espera pelo serenar dos rios que se cansaram do mar. Os meus passos avançam sem hesitar. Passos certos, que se confundem com os gritos das gaivotas, quando hesitam perante a lúcida caridade das águas que fugiram do mar. Os peixes engordaram durante o Inverno. Foram tantos os despejos que ficaram e as dores que se alimentaram e sobejaram. Já não vejo as mãos estendidas, nem os lenços a acenar. Essa claridade é trazida pelas gaivotas que choram sempre no mar. São as lágrimas que escorrem, e se encostam ao pontão que me leva para lá dos sonhos, que ficaram por sonhar.

E o Vazio Corrente...
Não me rendo ao mundo dos mares, sem passar pelas correntes gastas de um rio que me quer sempre a boiar, na ternura doce, no afago calmo e sereno, que em noites de lua cheia, se estendem num céu sem cor. Aí passamos para o lado de lá – o vazio da alma, que sempre se levanta e se quer nua, no universo dos corpos, enfeitiçados por luas diversas.
Eu sou aquela cor que perdura na extinta flor do monte, e lhe empresta as vozes de um rio que corre, sem pressa de chegar. Nutro-a!

E Eu...

Tenho na alma que cala, um timbre afinado de uma voz crescente. Espiral a lenta certeza do querer Ser. Fala quando cala, consente no sentir a dor, quando lhe falta a voz e dorme sempre a sorrir.
Sou a força que trago, mas não consigo alcançar o mundo
Do ventre que me viu nascer, soltei raízes que se alimentaram no mar e alcancei a terra dos sonhos, mesmo sem saber sonhar.

Os rios ficaram no mar e o mar avança na terra que me viu crescer.
Perdi-me do mundo e gastei-me na terra de ninguém.
Sou a vida que se quer ver de novo, entre o nascer e o morrer.

terça-feira, 10 de março de 2009

Invento-nos Uma Nova Escala Musical

Esta é uma noite para me debruçar sobre as sombras que ameaçam derrocar aqui mesmo, neste chão macio e brilhante cor pastel. Os meus olhos viram-te a rondar os meus pensamentos e evadi-me para lá deles. Esperaste que me fechasse e me trancasse às luzes da noite. São elas o meu porto de abrigo nos momentos em que a solidão me aguarda e me faz companhia até adormecer. Leva-me à vista de outras faces e eu observo-as sorrindo ao mesmo mundo que me viu nascer e morrer, em tantas, quantas vezes, eu abri os olhos a vários mundos. Como por encanto, admiro quase todas as que conheço. Estão ali sempre para mim. Tomo-as a meu jeito e há noites em que uma lágrima teima em soltar-se do seu abrigo nocturno. Assalta o espaço que se mostra na escuridão dos dias que se prestam a nada. Nem mesmo a noite os abarca, neste que é um leito doce das maravilhas que os sonhos trazem por entre portas e janelas das casas de uma cidade fantasma.

É sempre assim quando me mostro solta e indiferente aos dias que passam, sem um brilho no olhar. Este é um dia para comemorar, na noite que me faz atravessar portais translúcidos no tempo, me encontro na tua paz, aquela que por vezes esqueço. Quero-te nas lembranças do tempo, que foi para nós um misto de dor, matizado com as cores da alegria que se encontra sempre nas bifurcações de onde se soltam odores florais. Visto-me sempre com o sol de verão, as cores Outonais, os respingues da chuva de Invernos ancestrais e completa-se o círculo mágico bordado em orações até ao despontar das mimosas flores cor de arminho, rosáceas nos caminhos que atravesso ao amanhecer. Se quiseres continuar a ser uma flor que brota nas noites em que me disponho a ter-te, eu abro-me a ti num enlace perfeito. Enrosco o meu corpo no teu, visito-te nos teus embaraços toscos, dou-te as minhas mãos e ofereço-te os meus lábios sedentos dos teus. Quero-te os sabores do mundo em desespero pela mudança, em que os dias cantam nas noites, e as noites dançam nos dias. Uma música simples numa escala vasta e coberta de outros sóis.

Combinam-se as vozes e ensaiam-se os diversos tons, que se encostam aos muros das lamentações. Treinei já os meus; são vários por sinal, mas o Fá está mais à mão, é o meu jeito entre o dar e o receber e por querer estar de Fa(cto) distante do Ré. Quanto mais alto chega a minha voz, mais baixa me sinto em relação ao céu. Por isso re(elegi) o Fá e foquei-me num céu mais próximo de mim, aquele que eu sinto e vejo perto do meu fim. Fa(minto), me consola num palco inventado por nós entre os dor(mentes) sonhos que se querem num só. Nesta escala musical, confundem-me sempre as notas expostas ao Sol. Já me expus a elas e fiquei cega de outros céus que em mim quiseram ficar, e por isso te tomo de uma vez só. Vais directo ao ponto onde te espera um sol que se abre a ti em ondas multicolores, na suavidade do teu corpo. Cais sobre mim e eu recebo-te como por impulso. Abandono-me no términos de um céu distante que mostra as cores de um arco íris em plena sintonia. Os cânticos, experimentam uma subida ao mais alto nível da sua voz, e esperam pelo germinar das flores, que se soltam por entre o meu corpo nu.
Sou-Te nas essências doces que se atrevem a cair sobre ti, aprendemos a navegar, numa ondulação até aos confins de um mundo a descobrir.

Sou o teu segredo!
Encontro-te sempre nos meus sonhos que se extinguem nas noites fartas de mim. Morro por ti e renasço sempre para ti e em nós. Não me encontras neste lado do mundo, sem o meu corpo nu. Mostra-se a ti, sempre que te encostas à noite e me vês a rondar-te a céu aberto.

Este é o meu pranto!
Chora lágrimas que correm num olhar e se querem um rio que se encontra sempre no mar.

Esta é outra escala musical , aquela onde nos fundimos num so.
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domingo, 8 de março de 2009

Um Único Olhar

Quando vieres...
chegaste finalmente a Ti.

Até lá...
resguarda-te num jardim
povoado de sonhos raros

Só ao alcance de um olhar

O Teu !

(Dolores Marques)

quarta-feira, 4 de março de 2009

Onde o Tudo se Mistura no Nada


Há um prenúncio de qualquer coisa, mesmo antes de o ser
Esmiuço os sentidos até descobrir o que me leva por estes meandros da vida já gasta
Debruça-se pelas correntes que passam
Sem nada a levar
E nada a trazer
Como poderiam,
Se nem elas suportam o peso dos anos...

Nesta margem...
Fica sempre um resto de morte nos lameiros que as viu nascer
As flores que se soltam ao vento
Transportam no colo
Perfumes raros
Essências calmas
E silêncios amordaçados

E eu que sonho entregar-me a ti
Quiçá, num sonho
Ou numa viagem astral
Até aos confins dos mundos
Morro antes delas, coitadas...
E depois, o que será delas ?
Sumidas nas raízes tenras de uma terra alagada
Perco-me sempre no caminho, junto à margem das mazelas

Vi-te hoje a atravessar o jardim e não me viste deitada
Em pétalas raras...
Estou só nesta lenta caminhada
Onde o tudo se mistura no nada
Levanta-se da poeira da estrada
Uma só noite...
Que adormece na madrugada
Junto às casas onde me deito, já não há nada
Não há mais do que uma morte anunciada
Engendrada nos caminhos da alma

segunda-feira, 2 de março de 2009

As Intempéries do Pensamento e o Infinito Mundo das Estrelas

Somos a dor que se enfileira nos caminhos da eterna saudade, alucinados num mundo regido por bestas adormecidas. Se formos o centro e se nos mantivermos numa rotação uniforme, mas ausentes na forma, este será um estado que nos fará emergir em absoluto, no infinito mundo das estrelas.

Na elasticidade dos nossos movimentos, somos um só peso que cobre o manto sobre a crosta terrestre. Contém a adversidade de opiniões que nos sustenta de uma forma ou de outra dentro do nosso Universo – aquele que nos faz ser na angústia dos dias, nas manhãs abafadas pelo ilusório de tudo e nas crateras de um sol extinto, já no fim do verão. Perturbações várias, que nos conduzem por qualquer realidade que se alonga num olhar inconsequente ou sentir no corpo a mancha escura num tom de pele sóbrio.

Curtidos os momentos resplandecentes que se erguem de braços abertos aos rios, aos mares, ás montanhas e semeiam a cor dos gestos nos jardins da nossa imaginação.

A terra em constante renovação a ascender os planaltos, sustentada pelo universo inteiro ainda em construção e que sobrevoa os céus envolta por mares, desertos e mistérios insondáveis. Materializam-se nos sonhos que nas realidades alternativas me rondam o espaço contundente e confundo-me neste que é um movimento oposto, àquele em que sopra o vento. E se pensar que este é um Universo dentro de outros universos, serei sempre um mundo dentro de um mundo a descobrir, nos focos direccionados para aquilo que é, o meu devir.

Gosto de me sentir cobrada pela terra que verei nascer e de me sentar á espera que as vozes se escoem à passagem do tempo. Só um eco difuso, me fará continuar sempre na divisão do mundo em pedaços. Sou a loucura antagónica que sobrevive às intempéries do pensamento e este é um sonho que sobrevive à passagem da aurora.
Deixai-me ser mais do que este sonho que se ergue no templo.

- Vestirei as indumentárias gastas e apodrecidas nos calabouços de outro sonho.

- Tocarei as hastes engalanadas do saber que se reproduzem em sementeiras que germinam nas entranhas putrificadas e ausentes na forma.

- Abafarei as torres que alimentam o abismo imergente nos mares e continuarei a defendê-lo, ofertando-me. O meu corpo será uma égide contra a solidão dos povos e das inconsequentes variações do tempo.