quarta-feira, 28 de junho de 2023

Sofregamente


No altar da noite, sombras, sombrios nomes

os das memórias

inquietante o relógio parado


São de longe os passos dados

o poema incerto

o poema certo

as palavras não caladas

a voz silenciada em metáforas desusadas


A poesia já não as deseja

por companhia manipulada

sendo corrente em liberdade, 

é naturalmente nós

e nunca me será indiferença

quando te digo e te grito um poema nascido 

ainda que das metáforas

por medo do que digo

ou sinto

por medo de fugires da loucura

dentro e  fora de um corpo que te chama


Abandona o culto aos corpos esfomeados 

e prepara a terra para o maior culto das sementes 

de onde brotam os sentimentos ali semeados


Alivia a terra do mato grosso

 e cuida do corpo desta

em louvor ao dourado do trigo

 cujos grãos são testemunhos do trabalho árduo 

de um sentimento ainda a lutar para ser somente isso 


Onde está o Homem

onde procurar a voz nele enterrada

como se fosse a única semente 

não semeada


Usuais os pontos finais

num poema

quando ele não se lê, não se sente, não se vê

não se comove, não chora por vergonha

de o incompletarem na saga dos habituais modos

de se ser humano ainda que bélicos os olhares


Não sabe se é um ritual

ou um sermão da terra 

a louvar-lhe os passos

a aliviar-lhe as dores 

a cuidar dele para todo o sempre


Não reconhece nos sons díspares

um amor que ainda o é

na terra e no céu

 e nos mares e nos rios  

onde se escreveu um dia

a saudade 

que  bebemos ainda 

Sofregamente


ONIX, "Onde está o Homem"

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