Sabia que tudo o que desejava estava mesmo ali em frente dos seus olhos. Sabia mas não via. Nem mesmo com aquela luz toda a furar-lhe as retinas se convenceu. Era a tal verdade que nascia breve, mas cedo se finava, por só caber nos intervalos das pestanas.
Com uma escova fina tentava desembaraçá-las, e até esticá-las, elevá-las para cima. Mas, de nada adiantou. Ela descansava agora nas suas pálpebras, já meio descaídas, sofridas.
Fechou de novo os olhos e tentou a todo o custo visualizar uma luz. Uma luz por pequena que fosse, no meio daquele círculo fechado e negro. Lembrou-se da cor do chumbo que seus pés arrastavam pelas pedras negras e gastas.
Num impulso, abrem-se para a verdade nua a crua: estava ali escancarada na sua frente. Sem hesitar cerrou de novo os olhos. Momentos depois, voltou a abri-los para ter certeza da sua última visão. Nem mesmo assim acreditou e voltou a trancar-se, mas agora, por entre traços que assumiam a forma de um quadrado. Ali se silenciou.
Assim ficou o resto dos seus dias. As dúvidas dissiparam-se, quando por fim se abriu à luz que cuidou de tudo o resto.
Dolores Marques – Dakini 2013
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