(Foto de Bom Norte)
Apresentação por Sao Gonçalves no lançamento do livro - Às Escuras Encontro-te
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Estar aqui hoje sentada a esta mesa é para mim uma honra e ao mesmo tempo uma grande responsabilidade. Porquê eu, perguntei-me vezes sem conta, e como a resposta é sempre mesma é que nada acontece por acaso e se tiver que acontecer .....assim como a vida também me fez cruzar o caminho da escritora Dolores Marques, tinha que ter acontecido...estar aqui hoje. Dolores Marques é uma poetiza que se cruzou no meu caminho numa altura de mudança, numa altura em que tentava edificar novas estruturas, novos sentidos para a vida e porque de mudança e de crescimento falam os seus poemas, não foi difícil impregnar-me das suas palavras e vestir-me delas de alguma maneira, seguir-lhes as coordenadas. Dolores Marques na sua capacidade única de escrever o mundo espiritual cativa um grande numero de leitores abertos e predispostos a um novo olhar sobre a alma, sobre a espiritualidade e sobre os enigmas da condição humana, enquanto seres mutantes num mundo em evolução e caminhantes na direcção de uma nova luz.
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Quem é então esta Dolores Marques que se apresenta aqui hoje com este novo livro?
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Quem é a mulher por detrás das palavras e dos seus personagens, na sua caminhada enquanto mulher e escritora vista através do olhar que pousei indiscretamente na sua escrita.? Dolores Marques nascida na aldeia de Moção "terras altas "Castro D' Aire, nas margens do rio Paiva..como se a sua força interior já estivesse inscrita desde o berço , e o genes se alimentasse da força que emana do ventre das Serras, e das aguas de um rio que se estende por vezes calmo ,noutras ,bravio na procura das entranhas de um mar que o espera e o acolhe…Como se a rudeza e a simplicidade das suas gentes, moldasse a mulher que viria a ser escritora. Os elementos da Natureza presentes no crescimento da mulher e presentes na sua escrita, raízes que a ligam á terra e que se estendem na caminhada que a levam à contemplação de um mundo para lá do visível e terreno. São estas as raízes que moldam a mulher, os ritos e os rituais das gentes do campo, a sua sabedoria infinita dos mistérios da natureza, fundadores de uma extrutura complexa que se instala no Ser e na Alma. São os laços familiares que se cruzam e deixam como herança as memórias dos livros oferecidos na tenra infância, e cuja leituras vão marcar para sempre o percurso da mulher escritora. É nesta ligação à terra e ás suas gentes, que Dolores Marques cria o blog “Moção Uma Aldeia Esquecida”, para aqui também dar vida ao mundo da sua infância, à sua aldeia e divulgar a riqueza etnográfica e cultural da região interior do litoral do pais. Contudo, é a grande cidade com o rio Tejo a seus pés, que vê nascer a mulher escritora numa metamorfose em que a mulher lutadora se mostra ao mundo atravez das palavras que retratam a dicotomias do Ser e do estar, em que os sentimentos, e emoções, as sombras e as luzes o conhecido e o desconhecido, o corpo e a alma nos são apresentados á luz de um novo olhar.... E “Um novo olhar” é o nome do blog onde a autora mostra ao mundo a sua riqueza literária e artística, aproveitando as novas ferramentas que a blogosfera nos apresenta, para se dar a conhecer ao mundo.... É através da escrita que Dolores Marques chega até nós e nos mostra o seu lado mais contemplativo, mais feminino e questionador do seu mundo interior e visionario deste e de outros mundos, de outras eras, anteriores ou vindouras, mas que marcam e caracterizam um espirito aberto e em constante evolução.
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Dolores Marques escreve em vários estilos e com vários pseudónimos
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E é ai que contemplo as palavras da poetisa Dolores Marques, poemas que oscilam e se passeiam pelo mundo terreno e pelo mundo espiritual havendo nelas encontros quase subtis, que se tocam na sua perspectiva de encarar o mundo e de o compreender, e é neste registo que edita o seu primeiro livro de poesia em 2008.”Olhares. e em 2009 Subtilezas da alma” Ou na escrita de Matilde D' Ônix, uma escrita mais madura na sua capacidade de escrever esse mundo espiritual, onde a mulher de todos os dias, quase se extingue para dar luz ao Ser imaterial e uno que nela habita, criando textos que tem tanto de belo, como de profundo... E poderia também falar de Dakini...uma escrita mais virada para a descrição do sensual e do erotismo sem no entanto ferir, mas revelando e desvendando a marca da sexualidade emanente em cada um de nós.... E por último, as duas protagonistas, Epifania e Ainafipe, autoras de textos que nos levam a uma análise do que é mais racional e espiritual em cada um de nós, como num jogo de espelhos em que um e outro se escondem e aparecem , para no fim se formar a unicidade do Ser, no que há de mais simples e complexo, na sua capacidade de ser ao mesmo tempo, razão e espírito, na busca de um entendimento das duas partes, para que a compreensão das realidades se unifique numa só verdade.
Dolores Marques É uma escritora multi facetada que escreve de uma maneira magistral sobre todos os aspectos da vida e do crescimento interior. Nas suas mãos as palavras moldam-se de uma forma subtil aos mundos que ela quer descobrir e desmistificar. É a poetiza da alma, do mundo interior, da busca pelo conhecimento de si própria e do que a rodeia, das motivações espirituais, do conhecimento do que há de mais profundo na vida da humanidade. Há na sua escrita uma coragem de ir sempre mais além, na sua capacidade de atingir o inatingível, de se conhecer no mundo como Ser espiritual onde o corpo vagueia à mercê das incostancias e das variações do tempo que passa, e de um espírito novo que revigora na luz que que vem de outras vivências , mas e sobretudo, na luz que vem de um plano superior a este pequeno mundo onde nos encontramo
São Gonçalves
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(Trecho do livro que resume e enriquece o que acabei agora de dizer)
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“Gosto de me sentir cobrada pela terra que irá nascer e de me sentar á espera que as vozes se escoem sem nada a acrescentar. Só um eco difuso, me fará continuar sempre na divisão do mundo em pedaços. Sou a loucura antagónica que sobrevive às intempéries do pensamento, e este é um sonho que sobrevive à passagem da aurora.
- Deixai-me ser mais do que este sonho que se ergue no templo. - Vestirei as indumentárias gastas e apodrecidas nos calabouços de outro sonho.
- Tocarei as hastes engalanadas do saber, que se reproduzem em sementeiras que germinam nas entranhas putrificadas e ausentes na forma.
- Abafarei as torres que alimentam o abismo imergente nos mares e continuarei a defendê-lo, ofertando-me. O meu corpo será uma égide contra a solidão dos povos e das inconsequentes variações do tempo.”