segunda-feira, 19 de julho de 2010

Dimensões VIII - Paixão






Vazio, sim vazio, este lugar na noite. Há um espaço fechado, no vazio da minha alma.
Esta voz que me fala de um abismo, onde repousam todos os corpos famintos de vida. Esta chama que me incendeia por dentro, que me diz de um momento em que o meu corpo é sopro no teu corpo; e tu não sentes, e tu não ouves, e tu és nada neste sonho meu, e não vês o caminhar pela noite dentro, ao encontro dos dias que em ti nascem perfeitos, enigmáticos, prostrados no parapeito da minha janela. Oiço-te a respiração, terna, ofegante, encontros na noite, em que as palavras, falham, em que os gestos são mudos, por falta de um olhar que toque a força das marés nocturnas.

Apetece descarnar este fio imenso, esta comunicação distante que me faz perder o Norte por tão completa ser em dias certeiros, em noites dianteiras que antecedem a madrugada.

Apetece lembrar-me quem sou e porque me tomas por dentro, o epicentro de uma paixão que é tudo o que pretendo viver aqui neste lugar ermo. Que me traga um rio de águas, mansas, e me diga de um cerro a terminar a montanha, onde crescem flores silvestres, tojos, sargaços, e giestas. A pútigas, são já frutos maduros nos sulcos, suco agreste a escorrer pelos meus dedos.

Preciso de ti na força dos quatro elementos e quero-te a entrar e mim, devagar, silencioso. Quero que o meu corpo seja o sol, que os meus olhos sejam a lua e que os meus braços sejam o mundo que te abraça na noite cálida que me ofereces. Mas, traz-me a força do mar, transforma-te em remoinhos no meu corpo - este céu que te acomoda nos propósitos de uma paixão, que é, e sempre foi, só por ti, AMOR.

1 comentário:

A.S. disse...

A noite segreda-te coisas ao ouvido,
mas é de manhã que as palavras se tornam mais exactas.
Assim, amanheces todos os dias, tocando a ferida que ainda teima em doer...


BeijOOO
Al