quarta-feira, 8 de abril de 2009

Invento Um Novo Céu Para Nós

Reinvento-me no calor de uma abraço e há sempre bons motivos para me descobrir naquele que gosto e me mostra um céu para partir de novo à descoberta. Encontro-me sempre quando lhe sinto as mãos quentes a esboçar traços na minha pele, e a sua língua a tocar-me o céu aberto. Mostro-lhe um novo dia com as cores brilhantes do arco íris que se estende no horizonte dos meus sentires. Este vai ser um momento para eternizar os já passados e os que hão-de vir o meu corpo está prestes a entrar nos arrabaldes do presente e receber dele os lamentos do tempo em que não lembrava de sentir. Há um prazer no instante em que lembro da ternura dos seus olhos e da sua voz quente, doce envolta num véu transparente onde me deito sempre à despedida. Encontro-me na sua leveza transcendente e adormeço nos braços da noite, onde ele está por inteiro só para mim, solto-me elevando-me a nós num encontro que me faz ser um corpo que quer mais e mais.
A porta encontra-se entreaberta, esboço um sorriso na timidez que me é habitual, mas ele não nota, este meu ar meio desvinculado do meio que me faz ser, meio atordoada pela sensualidade dos seus gestos, da sua boca, do seu olhar quando me toca e me olha meio de soslaio, não entendendo muito bem que espécie de outra serei eu, no conjunto de todas as que teve, ou tem. Por isso irei continuar esta encenação descontraída num palco meio tosco, onde falta tudo menos a vontade de sonhar e acordar na ternura dos seus abraços. Quando me vê entrar, o seu olhar é tiro certeiro no meu peito, que se encontra quase a descoberto, por baixo de uma blusa de cambraia fina. Os mamilos soltam-se lentamente e sinto aquela energia a que já me habituei; suave, delicada a percorrer-me o corpo, focando-se no baixo ventre. Reparo que a luminosidade que cobre ainda este fim de tarde, se encontra calada neste ambiente acolhedor, com as persianas quase fechadas, só deixando entrar uma réstia de luz. Aromas povoam o ar e afagam-me a face, através de incensos e algumas velas acesas. Como eu sempre gosto, a música está deslumbrante, serena, inquietante e o meu corpo sente aquela força das marés que inundam uma praia deserta em noites de lua cheia. Encosto-me ao balcão que separa a sala do escritório, faço um gesto para tirar a fina echarpe que me cobre os ombros e sinto o seu corpo colado nas minhas costas. As suas mãos tocam-me suavemente as nádegas, deslocando-se para cima e para baixo, alternando entre movimentos, ora frenéticos, ora calmos. Tira-me a encharpe e enrola-a à volta dos meus olhos, atando-a atrás. Encosta-me á parede e inicia-se assim um ritual onde os corpos se submetem ao calor de uma paixão avassaladora. A minha roupa vai sendo tirada peça por peça, através da simplicidade dos gestos de quem quer, mas não quer, ama e deseja que os momentos se eternizem. Sinto a sua língua a percorrer-me o pescoço e deslizar sobre o meu peito. Aí a sua boca abre-se para que os meus peitos se entranhem nela e sinto os mamilos duros a entrar e sair da sua boca quente. Inunda-me uma vontade louca de me saciar nele, de o tomar todo para mim, mas ele continua a sua lenta caminhada, escalando o meu corpo numa subida íngreme, mas a gosto. Levanta-me e faz-me sentar na mesa do escritório, abre-me as pernas e sinto a sua língua a percorrer-me o corpo definindo-se desbravando até ao mais alto culminar de um acto sagrado. A minha vagina, contorce-se de dor e de prazer, sinto a humidade quase a transbordar os seus olhos, quando o puxo para mim e lhe digo:
- Quero olhar-te nos olhos.
Ele levanta-se e olha-me de frente, levando as suas mãos à minha face, puxando-me para ele. Beija-me e entrega-me aquela doçura morna que lhe escorre pelos lábios de uma boca ainda semiaberta.
- Quero-te todo para mim. Quero que me abras lentamente, que te enterres devagar e suavemente. Quero matar esta sede de ti, dos teus olhos, da tua voz, do teu sorriso.
Ele abraça-me forte e sinto o calor que emana dos poros da sua pele. Esta é uma sensação única, o meu corpo no seu e o seu corpo no meu e sermos um só, num momento que está para a eternidade através da fusão dos corpos, onde se dá a metamorfose, através da alquimia do amor. Enquanto as suas mãos se enchem das minhas nádegas, as minhas descaem e vou-lhe desapertando as calças de forma a poder encher eu, também as minhas mãos, da cobertura quente que me vem massajando o corpo. Agora numa posição mais cómoda, sentada de frente para ele sinto-o esbofetear-me a face focando-se nos meus lábios, que ainda se encontram dormentes pela força que dele emana. Seguro-o com as minhas duas mãos, e faço-o roçar-me os lábios em movimentos circulares. Um rio viscoso suave alaga-me os dedos. Abro a boca deixando escorrer uma gota na minha língua, puxo-o para mim e enterro-a na sua boca e ele suga da sua própria essência, onde tudo se inicia antes do principio e do fim. Aí nos encontramos sempre e os sons saem-nos da garganta uniformes, mantras no calor e na contracção dos corpos, propagam-se no ar poluído do fumo dos incensos já gastos. Extase total que se prolonga até ao infinito de nós. A minha boca abre-se e fecha-se sempre que saboreio o gotejar constante, um trago de uma casta madura, doce licor de sabor de mar, risca através das frestas das janelas o céu cobre que inunda o espaço reservado a sermos mais que um só corpo. Lentamente e com vontade de o mastigar devagarinho e enrolá-lo na minha boca, abocanho-o de uma só vez e sugo-lhe o que ainda resta e faço-o entrar em movimentos lentos até ao inicio de mim, inspirando-o e expirando-o.
- Pára diz ele. Estou sem controle e quero mais, muito mais até atingir o ponto onde somos uma só alma num corpo, neste que é um momento parado no tempo. Quero chegar rápido a ti, sentir-te o corpo eclodir no meu numa explosão única de prazer.
Levantei-me a abracei-o, dizendo-lhe que um dia ainda havia de o querer assim para mim, que todo ele escorra pétalas suaves no meu corpo. Ele sorriu para mim, num abraço terno, beijou-me mais uma vez mas agora com o desejo a saltar-lhe pela boca. Vira-me contra a mesa, faz-me deitar em cima dela até me esborrachar os seios, abre-me as pernas suavemente e fica em mim. As suas mãos deslocam-se para cima e para baixo a acariciar-me a face, as coxas, o meu clítoris abre-se a mais um suave contacto e sente o seu bafo quente.
Suplico-lhe que se entranhe, que me tome de uma só vez.
Ele penetra-me ali mesmo, introduzindo o seu sexo no meu.
Uma dor aguda misturada com prazer que me enlouquece. Tomo a sua mão para mim e encosto-a ao meu peito, e beijo-lhe o corpo retirando para mim parte dele. Os corpos saciados da fome e da sede de amor, encontram-se semi-abandonados ao calor da paixão. Elevarmo-nos através do sexo, é nutrirmo-nos ao mais alto nível da nossa consciência. Somos um só, nos recantos de um jardim onde abrimos a janela, neste fim de tarde e absorvemos uma nova tonalidade de um céu aberto, através de uma janela escancarada para o mundo. O nosso mundo que nos cobre os corpos, ainda quentes e húmidos de onde se solta um cheiro intenso a jasmim.

1 comentário:

Alvaro Oliveira disse...

Lindíssimo texto este
Invento de Um Novo Céu.
Parabéns.

Um abraço

Alvaro Oliveira