Imagina simplesmente um poema
Um poema intemporal
Um poema castigado pelas investidas do tempo
Um poema cantado no tumulto dos mares
Um poema sentido nas correntes de um rio
Um poema a saber-me a menta e a mel, e a fruta, e a canela
Um poema, cujos versos me devolvam o agridoce das amoras silvestres
Escreve o poema
O poema que me faça esquecer do tempo, imperfeito mas pleno de rituais
O poema que descreva a intemporalidade dos sonhos:sóbrio, eloquente, envolvente…com versos de aromas
O poema que se afunde no teu maior fundo
Imprime-me agora o poema
Como se eu fosse a tela dos desenganos, dos amores ali consentidos, sem sentidos, e não desmentidos pelos traços vincados de um pincel
Declama agora o poema
Que me faça sorrir e também chorar
Que as palavras ali nascidas sejam as estrelas da noite
E os versos soletrados, farrapos de luar nos meus olhos
Sente somente
A verdade ou a inverdade desse momento inscrito no meu corpo
A realidade, a ficção, a emoção à flor da pele, quando de olhos fechados te sentires somente o verdadeiro poema
E eu a brisa a dançar nas tuas mãos enquanto pensavas e nada escrevias
Não bebias da fonte onde nasce a poesia
E verso, somente, assim exposto à clara nudez do Poema…fiquei
Fui raiz, de um pensamento, ou simplesmente a desordem de um momento proscrito na face contrária de uma página ainda em branco
ÔNIX