segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Universo das Relações Humanas


Assisti em tempos a uma palestra, onde se abordavam assuntos, cuja temática pressupunha a discussão sobre as relações humanas. Às tantas, e porque não se tratava de um grupo coeso, instalou-se a polémica, uma vez que nem as duas mulheres e nem os dois homens que formavam a mesa, assim como os participantes onde eu me incluía, se entendiam. Quase sempre, a última palavra era a dos homens, caso não se colocasse uma ordem naquela desordem ali plantada.
Mas, como ia dizendo, o mote que nos havia ali puxado a todos era de uma importância ainda credível, isto para quem se preocupa ainda com estas coisas – as relações humanas. Devido à imensa confusão instalada na sala, o objectivo com que firmemente se tinha iniciado, deixou-se abater em cima da mesa, mesmo ali, defronte daqueles que tinham dado uma certa importância à coisa. Os tais dois homens e as duas mulheres.
Alguns participantes, dos dois géneros, já tinham abandonado a sala, porque as suas ideias até já tinham sido debatidas, porém, desprezadas por uma maioria ainda considerável. Mas, apesar disso, a minoria que ainda ali se reorganizava, apesar de ter engolido uma série de conceitos, por conta de uma outra teoria sem pés e cabeça, chegou-se à frente, aniquilando a importância que todos tinham dado à coisa, ainda antes de entrarem na sala.
Misturaram-se todos, e continuaram a fazer valer as suas opiniões, dentro dos parâmetros considerados normais, ao bom funcionamento da sequência da ordem de trabalhos, da Palestra agora reduzida a pouco mais do que uma conversa de café. A mesa de honra, antes ocupada pelos oradores, tinha dado lugar a um ou outro par de pernas do género fêmea, que excluíam logo à partida qualquer discussão séria que ali se quisesse impor.
Por fim, e porque tinham mesmo que dar a palestra por terminada, para se escrever sobre o ali discutido, tiveram que colocar a discussão à votação:
Tratava-se então de se saber, como, e em que condições normais de coabitação, alguém, se limitava simplesmente a Ser Pessoa, sem qualquer ordem imposta pelo parceiro. Tinha-se dado início à abordagem mais carismática dentro do universo das relações humanas - a relação entre o casal.

Posto isto, deixou logo de ser importante tratar-se de um casal, homo…, bi…, hetero…, ou transsexual. E, também, porque dentro das relações humanas ali discutidas, já se tinham engolido e até cuspido todas as outras, restando, sobretudo, a relação que é mais do que tudo, e que todos dizem apelidar-se de Amor.
- Balelas é o que é! - Diziam duas mulheres sentadas agora no chão.
- Bolas, mas então o que leva duas pessoas a relacionarem-se, a dormirem juntas, a acordarem juntas, a zangaram-se juntas, enfim, o que é? - Insistia outra que não tinha saído ainda do mesmo lugar que ocupara no início.

Um dos dois oradores do género masculino, que até ali, ocupara na mesa, o seu devido lugar, tinha já como objectivo uma das questões agora ali levantadas. As pernas longas e bem trajadas da mulher que entretanto se sentara em cima da mesa. Este decidira-se então, pelo ali cruzamento das pernas, cujas meias de liga se assumiam, um tanto desprotegidas.
A Mulher que ocupava ainda o mesmo lugar levanta-se e abandona a sala. Acho que o fez, por ter chegado à conclusão, que ali não se aprendia nada que a fizesse perder mais tempo.
Ficou então a sala mais composta, com as restantes mulheres, tal como o que restou dos homens, a tentarem cada qual ganhar poder, e por isso, - a Discussão. Insistiam uns de um lado e os outros do outro, até que, às páginas tantas, uma das mulheres, decidiu contar ali a sua experiência de 20 anos de casamento.
Focou-se na paixão, no carinho, no amor que nutriam um pelo outro, e no sexo. Foram todos unânimes em dizer, que a qualidade do sexo é que faz com que uma relação seja eterna. Depois, alguém decide irromper por aquela discussão assoberbada, e afirmar que a luta pelo poder existente nas relações humanas, é exactamente igual às lutas de poder que se conhecem. A cada dia que passa, medem-se forças, tendo em vistas, um clímax estranho. Opina ele, opina ela, opinamos todos. Aliás, todos queremos colocar um ponto final na nossa história e na do outro.
Porém, só quem for veementemente castigado por todos os géneros de manipulação, sabe como se dão estes encontros, onde o poder quase sempre se assume único na forma, por ser detentor de uma película inviolável, onde o prazer se contém, como se de um espermatozoide se tratasse.
Falou-se depois nas circunstâncias que levaram o homem à condição de animal racional, limitando os outros a uma condição miserável de sustentabilidade, pelo que nos é dado conhecer, quando os comemos, como se fossemos todos uma comandita a criar um movimento antropofágico aleatório.
Como se o nosso poder pudesse advir das suas partes baixas, e até excluíssemos também do chão os membros inferiores. Criar-se-ia assim, uma nova espécie de seres, mais ousados, e habilitados a sobrevoar os céus. Passaríamos então à condição de seres angelicais, por sobre as camadas de seres existenciais que ainda habitam a terra.
Falava-se ainda sobre os porquês de se terem afastado daquela condição miserável e rastejante, quando se colocaram na posição erecta. Outros diziam, ser também por conta de um sentimento, que Deus semeara nos seus corpos, para que fosse mais fácil, separar o trigo do joio. Contraponto a isto havia quem dissesse, que tinham surgido novas teorias mais humanistas, que só a oração que bailava por entre os lábios os diferenciava dos outros animais.
Uma delas, enquanto assistente, porém cega, surda e muda, sentia tudo isto como se fosse uma verdade inconsequente. Ouvia agora as vozes mais nítidas, que rompiam o véu ali costurado à volta dos seus olhos. Sentia um fogo quente nas mãos, uma chama a arder-lhe no peito. Estaria por certo a sentir alguma forma de Amor, ou seria só um desejo do corpo a pedir comida, enquanto a fome se intrusava, por entre as pernas de uma agora, loba.
Pensem bem antes de a olharem nos olhos. Ali estão guardadas todas as lutas, assim como todas as conquistas. E, quando por via de furar a noite, ao se colocar na verticalidade dos gestos, a mulher submissa, mais baixa do que o homem, naturalmente, que mais parece rastejar em rezas obtusas, nem sempre se cinge à dor, para querer ser a melhor, antes crer no seu SER MULHER.
Tomem agora nota dos traços com que desenha no ar a sua silhueta, porque por quantas dúvidas existirem, a Mulher ainda é detentora de uma discussão acesa. A Mulher, apesar de tudo, é sempre a “vencedora”. Sabe como entrar, e o porquê de sair ou permanecer numa relação humana.
Quase sempre é por AMOR.


Dolores Marques