O que é o “nada”? Inexistência, o vácuo, o vazio absoluto, um buraco negro no Universo? Mas se o “nada” existe para nos dar a percepção da não existência, então é porque existe algo.
O “Nada”, conduz-nos a muitas ilações, e quase sempre tecemos considerações filosóficas sobre o seu conteúdo.
Mas se no “nada” existe nada, então porque procurar algo que não existe?
“Deus”, uma palavra forte para quem acredita na sua existência.
“Nada”, outra palavra forte para os incrédulos na existência de Deus.
Estes homens de pouca fé sabem pouco da vida que lhes permite serem vida neste ponto que deve ter sido um “nada”, mas agora é tudo o que Deus quer. Pensarmos nestes conceitos é termos consciência e, se ela existe para nos levar a pensar, então outras formas elevadas do Ser estão presentes para nos levar onde Deus quiser. Procurar entender os sinais é ir longe na procura de um nome. Assim o fiz, preenchendo um espaço nas minhas memórias com um nome sonante, uma força viva da terra.
Terra agreste no meio da nada, trabalho e mais trabalho e o Nada sempre presente ocupando o espaço dos que viviam na miséria, com fome de tudo. Fome de comida, fome de se saberem gente e de se apresentarem sem medos, como tal.
Foi no meio deste Nada que nasceu a minha curiosidade. Penso que se ela tinha consciência desse nada aparente, então terá feito desse nada, um caminho para ter algo, limitando-se a sobreviver. (Curiosamente sobre tanta coisa e nada sobre coisa alguma que existe nesse nada a empurrar o cosmos, sabe-se lá para onde).
Nada – uma palavra solta a revelar-me ainda alguma coisa. Existe para dar vida ao próprio nada.
Dizem que os nomes com os quais nos baptizam, revelam muito da nossa personalidade. O nome representa a força vital de um indivíduo.
Pensando nisto, tentei extrair algo desse universo do nada que o fez ser um Ser na terra de ninguém, e continuar a inseri-lo nas minhas memórias.
Tudo se encontrava ausente, inexistente, mas ao mesmo tempo, transparente aos meus olhos. Tanto, que cheguei a ter visões de um nada quase a saltar-lhes da retina, como se fossem o depósito de todas as cegueiras ainda vivas.
Precipitei-me então para outro cenário onde o tudo é ainda permanência. Estava ali todo espalhado pelas diversas imagens que constituíam o final do primeiro acto. Os actores tinham deixado vestígios da sua representação. Os corpos sumiram, as palavras, silenciaram-se, os olhares, fecharam-se, as suas bocas serviam de entrada para um poço sem fundo. Espreitando, dava para perceber como era pesado o ar que enchia esse buraco negro. Tudo se materializaria de novo, enquanto do outro lado tentava a todo o custo tocar aquelas partículas desintegradas de um tudo/nada ainda vivo.
Dolores Marques