As manhãs são sempre uma correria desenfreada. Ninguém fala, mas todos conspiram contra a sua sorte. Uns vão bem, outros vão mal e outros, assim-assim, e ainda os outros, como Deus manda. Mas, hoje os mandos e desmandos chegam-nos de um sentido obrigatório. Corta-se o sentido normal das coisas verdadeiras, e criam-se novos sentidos inversos à verdade dos nossos olhos; uns abertos, outros fechados para o novo sentido. E assim vamos seguindo; uns olham para a direita, outros olham para a esquerda, e os outros até parece que acordaram com umas talas nos olhos. Só veem o que lhes convém, não vá o diabo tecê-las e depois caírem num buraco sem fundo qualquer, como este de hoje que nos impede de andar para a frente.
E o polícia de trânsito, coitado, simplesmente acordado, para o que lhe ordenaram, num sentido original e esquizofrénico, vai acenando com uma das mãos o nosso novo sentido. Meu Deus, o que um simples buraco a precisar que lhe tapem a boca, provoca no movimento matinal duma cidade, que dorme de dia e acorda de noite, para os mais estranhos sentidos obrigatórios.
Simplesmente o caos a acordar, ou a adormecer a cidade.
Nota; Tenho dias, que me falta a paciência para tanta anormalidade. Somos um beco em ruinas, somos simplesmente o acaso de uma ordem inversa à normalidade
Dolores Marques: Dakini in Eventos 2013